Páginas

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Tenho muito ainda o que aprender

No final de 2012, enquanto arrumava a mala voltando de SP para POA, sem querer encontrei um maço de bilhetes e ingressos dos shows mais recentes do Nenhum. Percebi que não havia atualizado minha "lista" há algum tempo. Resolvi marcar tudo lá. E me surpreendi ao notar que estava me aproximando da marca de 250 espetáculos presenciados. "Nóóóó!!!" Fiquei, na verdade, muito emocionada... contente... satisfeita... enfim, super feliz com essa sorte!!!
Não pela quantidade, porque isso nada quer dizer, mas por tudo que vivi de bom nesse tempo.
Posso dizer que levo grandes lições na minha mochila (gasta pelo tempo e já remendada, mas que nunca me deixou na mão) entre uma "indiada" e outra seguindo o Nenhum de Nós.

Claro que comecei a lembrar de muitos momentos. E se eu resolvesse escrever tudo aqui, teria muuuuuito trabalho kkkkk. Lá se vão quase 16 anos da minha vida......
Mas fiz uma listinha com algumas coisas que aprendi nessa "viagem".

Aprendi que:

Não se deve viajar sem mapa e sem conferir a previsão do tempo.
E que a gente deve duvidar dos mapas, às vezes...
...e se perder.
Aprendi na prática que se um caminho der errado a gente sempre pode tentar outro...

... e outro...
... e mais outro...
Aprendi que é sempre bom conferir se o local do show tem o chão com serragem, pois é péssimo ir de sandálias nesses casos.
Organizar detalhadamente a viagem é sempre mais seguro, mas decidir sair em cima da hora e desbravar uma cidade desconhecida é sempre mais divertido.
Às vezes, é preciso mentir para os pais quando o show é muito longe...
... e aprendi que sentimos falta deles quando não estão mais tão perto.
Aprendi que quando mulheres delicadas com unha feita precisam trocar um pneu, viram guerreiras muito fortes, e quando precisam trocar dois, se transformam em deusas.
Aprendi que nem sempre é preciso chegar ao final do trajeto para se ter concluído o percurso.
Aprendi que, às vezes, a gente chora sem motivo ao ouvir uma música e também pode ter ataques de risos sem qualquer explicação.
Aprendi que as estradas ficam muito mais bonitas em noites estreladas...

... e que o nascer do sol na praia traz um silêncio para a alma...
Aprendi que fazer amigos e muito bom e que mantê-los é uma experiência maravilhosa
e complicada.
Aprendi que não é possível estar em dois lugares ao mesmo tempo e a sentir saudade de quem eu gosto sem chorar.

Aprendi também que quando a gente vive de coração aberto e é sincero no que diz e faz, a vida acaba sendo muito legal com a gente =)

Se eu citasse cada uma das pessoas que fizeram e fazem parte do meu mundo graças à banda, correria o risco de deixar alguém de fora. Então, montei essas fotos com algumas pessoas e espero que TODOS sintam-se abraçados fortemente por mim ;)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Na chegada de quem volta a pé para casa...

Nas séries iniciais da escola, aprendi que o radical de uma palavra é a parte que nunca muda. Independente da conjugação, do modo e do tempo, é a parte que fica sempre igual. Aprendi que a essência é pura.

Primeira manhã das férias de inverno. Para que a tradição não se quebre é obrigatório dormir até o meio-dia no primeiro dia de alforria. E eu dormia profundamente... quando meu celular gritou desesperadamente: "VERANÓPOLIS AMANHÃ???". Li a frase; não acreditei. Fechei os olhos para voltar a dormir. Não consegui. Saltei da cama.

Enquanto tomava banho, lembrei de uma vez que li num livro, de autoria atribuida ao Buda, que frente à situação de ter de escolher entre um "não" e um "sim" devemos escolher o "sim". Ponderar, mas dar preferência aos "sim" que a vida nos oferece. Procurei o celular e respondi a mensagem: "SIM!!!"

Este ano decidi apostar em alguns projetos ousados. Resolvi correr atrás, com todas as minhas forças, de antigos sonhos e planos profissionais. Isso toma todo o meu tempo e não tem sido fácil cruzar meus caminhos com os do Nenhum. Na verdade, não tem sido fácil cruzar meus caminhos com os caminhos de ninguém. Fico pouco em casa, ando de um lado para outro, com a companhia dos meus livros... e só. Sei que estamos na tão aclamada Era da modernidade, mas percebo que as coisas ainda são muito difíceis para as mulheres. Digo as mulheres que não querem apenas um marido, um par de filhos, boas compras de supermercado e um final de semana no Natal Luz de Gramado. Estou estudando muito mais e investindo em uma nova carreira. Porém, me vejo trabalhando em dobro, aguentando piadinhas e sendo desafiada só por que sou mulher. Parece que a gente sempre tem que PROVAR que dá conta, entendem? Não bastam os resultados, tem que haver uma afirmação e depois a reafirmação. É de encher o saco!!!

Decido me animar e pôr pra rodar um disco do Nenhum de Nós, mas fiquei em dúvida em qual escolher. Com esse lance de ter tudo digitalizado, nunca mais tinha mexido nos CDS. Nem tenho ouvido música. Por acaso, peguei o Paz e Amor. Em pouco tempo eu já não lembrava das questões sociais, do trabalho, do futuro, de nada. "Não tenha medo de andar com suas próprias pernas..."
Eu transbordava vontade de dançar com a minha banda preferida ao lado da minha parceira de muuuuuitas INDIADAS.

Estávamos em dúvida de investir na viagem, que não era longa, mas poderia ser cansativa. Ligamos para alguns amigos e mais ninguém topou. E agora? Seguimos? Desistimos?
A tarde de sábado se arrastou com a dúvida de ir ou não para a cidade de Veranópolis/RS, onde teria o show. Filosofar é examinar a razão. A decisão tinha de ser racional. Havia condições de ir? A gente não sabia... Se existe algo oculto no mundo, tipo "anjos", os que me rondam são MUITO LOUCOS E AVENTUREIROS. E nos aconselharam a acreditar no nosso taco e dizer "sim" mais uma vez.

Sabíamos que seria um passeio bom, as duas amigas colocando a conversa em dia. Só não imaginávamos que seria uma noite de quebrar tradições, costumes e mais algumas coisas...

Uma das pautas da viagem foi a existência de Deus. Não posso atestar que Ele existe, muito menos provar o contrário. Minha teoria é que, se um deus existe, não interfere na nossa vida. Talvez receba nossa alma quando morremos. Mas aqui "embaixo" é tudo com a gente. Acho que não nascemos nem bons nem maus e vamos vivendo do jeito que dá. Ponto. Pode ser uma ideia racional ou um pensamento de quem cansou de acreditar. Disseram-me que sabedoria é saber que não se sabe coisa alguma... Ponto.

O carro vencia sem dificuldades a subida da serra gaúcha. Vimos o pórtico de entrada de Bento Gonçalves, um barril imenso que sempre me deixa com vontade de beber vinho. A rodovia não está das melhores. Muita recapagem mal feita e a iluminação é uma lenda! Fiscalização só se for de fantasmas, porque polícia não existe naquelas bandas. Cruzamos a ponte do Rio das Antas, conhecido pela beleza dos penhascos ao seu redor. E é lindo mesmo, mas a escuridão dá ao caminho um toque de filme de suspense. Por algum motivo não estava tocando nenhuma música no Ipod naquele momento. Aconteceu em uma das curvas apertadas e extremamente mal planejadas da RS470. Direção pra lá e pra cá. Dois pneus estourados... e o fim dos nossos lindos penteados.

Queríamos uma noite incrível. E tivemos!
Aconteceu tanta coisa maluca que se eu narrar aqui, a história vai se parecer com O Sítio do Pica-pau Amarelo, do Monteiro Lobato. Personagens pitorescos apareceram na mais marcante (e exaustiva) madrugada que vivemos juntas. Pelo menos, em se tratando de nervos à flor da pele, adrenalina e graxa. Resumindo em poucas palavras: borracharia macabra no meio do nada, boléia de caminhão, carro que anda sozinho, gente bêbada, Jesus (o próprio), guincho, medo e coragem. Demoramos para notar que a temperatura chegava a quase 0ºC... e a geada caía silenciosamente sobre nossas cabeças...

Vou correr o risco de ser chamada de idiota, mas ouvi esta música no filme da Hanna Montanna (sim, levei meus sobrinhos para assistirem) e ela diz muito sobre a impressão desta e de outras viagens. Sobre o que nos faz seguir um mapa. E que a conquista nem sempre é achar um "tesouro" no fim da expedição, mas é enxergar a beleza da caminhada.

Quem põe o pé na estrada (literalmente ou não) com um desejo forte no coração sabe do que estou falando.

Quem não entendeu nada, pode sacar qual é o espírito...

"Ain't about how fast I get there
Ain't about what's waiting
On the other side
It's the climb"



- ´Tá. Mas não vai contar nada sobre o show, Jajá???
-  Nem te conto...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Santa felicidade na minha vida!

Quem diria?! Estou novamente debutando hehehe.

Hoje, exatamente hoje, é MEU ANIVERSÁRIO DE SHOW!
Foi num 13 de julho, em 1997, que ganhei minha tão sonhada chance de ver a banda Nenhum de Nós ao vivo pela primeira vez. E foi um momento esperado e sonhado por muuuuuito tempo antes. Quando releio os diários e agendas daquela época (coisas de adolescente), é comum a frase "o dia mais feliz da minha vida". E foi realmente um dia FELIZ!!!
Não só aquele dia, mas minha vida a partir dali.

Aquele show aberto, na antiga Praça da Encol em Porto Alegre, foi o acontecimento mais marcante da minha adolescência, um período onde "ninguém me compreendia e eu não compreendia ninguém". Eu lembro e celebro esta data não apenas porque conheci meus ídolos, mas porque foi especial de verdade. Aconteceu alguma coisa maior no cosmos naquela tarde de sol...
Eu curtia o som da banda dia e noite, intensamente. Mas depois de me sentir embalada pelas guitarras e gaita, tudo ficou diferente. Era como se as canções tivessem ficado mais próximas de mim, elas agora não apenas contavam histórias com as quais eu me identificava, elas eram parte das minhas experiências. Eu me senti parte do show e, no meu mundo de sonho realizado, me senti parte da banda. Voltei para casa vendo o mundo com muito mais esperança, mais amor, sei lá... algo viajante assim... algo muito bom ficou no ar... algo que ficou na minha vida para sempre!

Só que a emoção que senti não ficou guardada junto com as lembranças. A impressão de que as canções do Nenhum de Nós me contam histórias e fazem parte de mim continua até hoje.
Conheço fãs de diversas bandas, mas nenhum se diz tão satisfeito quanto eu (ou melhor, quanto a um fã do NDN). Eles dizem: "ser fã do Nenhum parece muito mais legal". E eu sempre respondo: "E é mesmo!!!". Sabem, não é só a música e as letras profundas que me tocam. É esse jeito legal deles.
Vivi muitos dias bons ao lado desses caras ao longo dos últimos 15 anos. Dancei, ri, chorei, amei, tudo ao som desta banda de rock. O imenso carinho que guardo por Thedy, Carlos, Sady, Veco e João Vicenti é INDIZÍVEL. Não é coisa de se explicar. Só deixo a minha cara boba de admiração.

Eu sou uma fã completamente realizada! Porque pude ver a minha banda preferida algumas vezes, porque fiz muitos amigos especiais trilhando este caminho, porque tenho um monte de histórias bacanas e cheias de aventura para contar, graças a eles.
E põe aventura nisso...... =P

Esta banda é especial para mim, como sei que é também para vocês, leitores deste blog e meus amigos. Por isso, hoje o post vai ser diferente.
Não vou aqui detalhar os acontecimentos deste primeiro show novamente, isto já está na postagem http://www.voceprecisaserlivre.blogspot.com.br/2011/07/eu-tinha-quase-16.html.

Hoje peço que todos vocês que curtem e viajam comigo, pessoalmente ou virtualmente, para os shows do Nenhum, comentem aqui CONTANDO A SUA HISTÓRIA. Como foi seu primeiro show, se já teve? Por que gosta do Nenhum de Nós? Falem sobre o que quiser.
Desejo de coração compartilhar esse sentimento especial e que enche nossos dias de alegria!

Vamos contar a história juntos desta vez ;)


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Se o dia permitir...

Hoje, ao sair da redação e passar em frente a um mercadinho no bairro Menino Deus avistei uma garrafa da espumante Garibaldi. E na hora vieram lembranças da própria cidade de Garibaldi/RS, onde a bebida é produzida, e os incontáveis shows do Nenhum de Nós que já assisti lá.
Deu saudade deles...

Coincidência ou não, os últimos dois shows que fui, aconteceram nesta mesma cidade.

Parte I - 3/3/12

Na ida, um fato engraçado para nós. Paramos em um posto para ter informações de como chegar ao local do show, e uns garotos aproximaram-se do carro. Nós, rapidamente, cuidamos de fechar as portas, embora eles não parecessem perigosos. Eles abanavam e jogavam beijos, até aí tudo normal. Combinamos o caminho a seguir e o carro foi ligado novamente. Então, o inesperado! Um dos meninos ajoelhou-se na frente do carro e falava “Por favor, não vão embora!” um outro, mais alto, se jogou no capô e (inacreditável) LAMBEU o vidro. Eles beijavam o carro e suplicavam “Só um beijinho, pelo amor de deus”. Olha que vivi muitas experiências estranhas nesses quinze anos que tenho de shows do Nenhum, mas nunca ficamos tão chocadas com o que víamos em nossa frente. Foi hilário! Ríamos muito! Mais de supresa que por achar graça. O carro andava vagarosamente para o acostamento enquanto acenávamos (bem trancadas do lado de dentro) deixando para trás os rapazes, que ficaram gritando “Voltem! Voltem...”

A festa se realizou em um lugar grande e que nos encantou pela organização. Fazia tempo que eu não ia num show tão legal e para encontrar tantos conhecidos. A Contos de Água e Fogo Tour bombando! A música Camila, Camila tocou para mim nessa noite como em nenhuma outra...
Parecíamos crianças arteiras. Resolvemos até tentar pegar um cartaz enorme no meio de um canteiro, como fazíamos há anos atrás. Perdemos um pouco a habilidade para isso, devo confessar hahaha. Mas o talento de nos divertir e nos aventurar só se aprimora.

Retornamos falando sobre AMOR. Sobre o que seria, verdadeiramente, esse sentimento. Tenho passado meus dias e noites rodeadas por livros de Filosofia e nenhum, até agora, explica o amor. E os que tentam explicar, nada dizem de certo. Será que, como diz numa música, o amor é sempre igual “mesmo que mude”? Será que acaba? Se ele existe, como conhecer ou reconhecer? Se é algo "divino" ou não. Às vezes eu fico pensando se há mesmo diferença entre amor que temos por família, amigos e nos relacionamentos. Se não é apenas a aplicação - de um mesmo amor - que muda. Às vezes fico pensando o quanto eu queria saber um monte de outras questões...

Parte II - 1/5/12

Nossa volta à Terra da Champagne aconteceu muito tempo depois. Eu estava com uma BAITA SAUDADE dos guris, dos amigos e de viajar. Tantas coisas novas estão acontecendo, ao mesmo tempo, em minha vida que não consigo inventar uma maneira de “fugir” para vê-los. Este é um período agitado para mim. Muitos projetos iniciados e muito, muito, muuuito estudo!

Mas, “para noooooossa alegria”...

... Entrou na agenda um show que contemplava tudo o que eu sonhava: uma cidade próxima, o feriado e um ótimo horário. O Universo finalmente conspirava a favor!
Para não quebrar nosso protocolo básico, decidimos sair na última hora. Por feliz acaso, virou um encontro de velhos amigos. Inclusive, estamos adquirindo o que popularmente se chama “mania de velho”, pois, sem que combinássemos, tal junção ficou com cara de flashback. A todo momento alguém lembrava uma história antiga vividas ao som de alguma canção que rolava no show ou fazia as dancinhas (risos). Comemoramos demais esse encontro! Eu senti uma energia bastante limpa e boa.

As setlist foi a mesma da vez anterior, mas não dá para dizer que foi o mesmo show. Era ao ar livre, no centro. Famílias inteiras curtindo tudo sentadas em suas cadeiras de praia e era difícil não ver alguém tomando chimarrão e se escondendo do friozinho serrano.

Depois fomos encontrar a banda... Fiquei emocionada ao revê-los. Sinto falta de ser tudo como era, de ir em show todo o fim de semana e de saber sempre como eles estão. Ah... foi ótimo ótimo ótimo ótimo, mil vezes ótimo! É coisa de recarregar a bateria cansada e de tornar insignificantes as chatices do cotidiano. E ganhar aquele abraço infiniiiiiiiito de uma pessoa querida é viver a mágica de fazer desaparecer todas as preocupações do mundo...

Como a tradição manda (e esta nunca é quebrada), rodamos perdidos por mais algumas horas até achar a saída e dar adeus para a placa de boas vindas que cruzamos na chegada.

Paramos para um café, já perto de casa, e falamos de outras viagens que já fizemos juntos; falamos de compromissos e família; de como está nossa vida hoje em dia; falamos do tempo.
Tempo de escola. Tempo em que passávamos noites em claro pelas estradas, asfaltadas ou não, perigosas ou não. Tempo de emendar um show no outro durante dois, três, quatro dias seguidos e nunca cansar.
Falamos do tempo de agora. Tempo de tanto trabalho. Tempo de acordar sempre cedo. Tempo de não mais dirigir sem descanço. Falamos sobre ter filhos...
Concordamos que passava-se UM TEMPÃO desque que a gente se conhece. Bom tempo! Todo ele!!! E que nosso tempo presente também é MUITO BOM!
E que já era tarde e hora de ir para casa...

Nessas duas viagens algumas situações se repetiam. E observei que eram situações que se repetiam SEMPRE. Uma delas é o momento em que chegamos em casa. Notei que nos despedimos sempre, senão com as mesmas palavras, com a mesma expressão no rosto. Além disso, nesta última vez, vi que os sons da rua e o número de passos que eu dava até o portão eram quase os mesmos. Quando entrei no pátio o movimento natural, melhor dizendo,  obrigatório, foi olhar para trás... Minha amiga-irmã já estava (e reconheci que isto também acontecia sempre) com sua janela aberta. Fizemos o mesmo cumprimento de sobrancelhas uma para outra. O mesmo sorriso de aprovação. Um mesmo silêncio breve. E descobri que este silêncio sempre existira, mas que eu nunca o tinha percebido. Não era algo "de sempre". Surgia algo novo na cena! Espanto quase invisível... Reconheci outra coisa que sempre acontece: é exatamente este “algo novo”! Às vezes um novo tão pequeno que não notamos sua aparição. Uma transformação tímida que nada diz sobre si, mas age secretamente no que nos tornamos à partir das nossas voltas. Depois do "fechar de cortinas".

Fiquei olhando o carro partir até que virasse à esquina. E admiti que sei quase nada sobre pessoas e suas emoções e sei menos ainda sobre mim e o que anda acontecendo com a minha vida. Mas uma coisa afirmo com toda a segurança: enquanto existir esse silêncio entre o olhar para trás e os sorrisos que se encontram no fim de tudo “sei que sempre vai estar tudo bem...”

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"Como um anjo caído, fiz questão de esquecer que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira"

O ano é outro... Os tempos são outros...

2011 foi um dos meus melhores anos em relação ao Nenhum de Nós. Pude ir em muitos shows (mais de 30), conheci cidades lindas e pessoas encantadoras enquanto "voava as tranças" nas estradas do país. Tive a chance de passar mais tempo perto destes rapazes que me comovem com sua música e seu carisma. Trago boas recordações e amizades que já são "de infância".

Em dezembro me candidatei à uma bolsa de estudos, resolvi então, ficar só em Porto Alegre. Nas festas de ano novo com parentes, sem muitos barulhos, sem bebidas alcoólicas, sem tumultos, observei que meus sobrinhos estavam crescidos, que meu irmão está com muitos cabelos brancos e minha mãe pouco se parece com a jovem sorridente das fotos guardadas. Notei que ninguém mais olhava as fotos guardadas em minha casa. Percebi que soou estranho quando pensei: MINHA CASA...  E, num cair de ombros, vi como as coisas mudaram em minha ausência e admiti que eu quis mesmo estar longe enquanto o clima não estava bom. Eu não sabia o que fazer com algumas dores, mas eu sabia sempre aonde ir. E fui. Fiz tudo que eu quis e pude me consertar por dentro entre um show e outro. Chegara a hora de cuidar das minhas gentes de novo.
Resolvi realizar programas em casa. Assisti TV com a mãe, cozinhei, fui à churrascos, curti meus primos, tomei sorvete com as crianças, ri de piadas, namorei, brinquei com meu gato e saí nas fotos atrasadas dos álbuns de família. Também proveitei para mandar cartas a amigos distantes e cuidar do nosso jardim. Foi muito bom. Eu diria que foi como uma meditação profunda. Eu nem havia dado por conta de que estava cansada. Dormi bastante... Espreguicei...
Se não acertei todas as horas, acho que fui capaz de recuperar alguns minutos de prazer com pessoas que amo.

Após alguns dias de tranquilidade caseira, soube da agenda da banda. Devido à uma nova experiência jornalística que abracei, me restava somente o último final de semana de janeiro e havia um show marcado que é, como dizem os mais antigos, "um brinco!": o LOOPCÍNIO. Não me delongo em falar sobre o evento pois já externei aqui, neste humilde blog, minha admiração pela música brasileira de essência (MPB, Sambas e afins) e ouvir o Lupe com casaca eletrônica e a percussão dos músicos que acompanham o Thedy nesse projeto é sempre uma satisfação enorme! Mas o local do show era... Curitiba. A família entendeu. Sabem que natureza não se muda e a minha é off road...
Por coincidência, a viagem deveria ser no mesmo dia que sairia o resultado da minha bolsa na PUC/RS. Eu estava nervosa pela bolsa, afinal era um sonho antigo estudar lá; e nervosa porque se não ganhasse logo um "ok" na documentação não viajaria. Finalmente fui aprovada e hoje sou aluna do curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Saí do campus FELIZ DA VIDA!!! E corri para ver se conseguia embarcar a tempo... Descobri que tinha menos de duas horas. Decidi arriscar  e corri para casa. Peguei a mala, mas achei melhor fazer duas mochilas, pois, ANOTEM A DICA: seu uso facilita no sentido de locomoção, distribuição de peso e até nos guardavolumes. Peguei tudo que encontrava sem pensar muito. Como não devemos andar sozinhos por aí, levei como companhia o Eduardo Galeano e seu "As veias abertas da América Latina", livro que, sinceramente, tem o título mais interessante que seu texto, mas ler Galeano sempre enriquece, não é?! O táxi não chegava nunca então fui andando pela rua para encontrá-lo. Alcancei-o e começou a saga. Perdi o show de sexta, mas ainda me restaram sábado e domingo.
E foi FANTÁSTICO!!!
Primeiro porque as apresentações valeram muito a pena! E segundo, fiz as pazes com Curitiba! Não tive sorte nas minhas outras visitas e acabei guardando uma imagem muito fria de lá. Mas desta vez tudo foi bom demais. Talvez por causa do verão, mas acho que meu "guia" super qualificado fez toda a diferença =P Passeamos muito, passamos o domingo todo fotografando os principais atrativos do Centro. Adorei a Praça do Homem Nú, tem estátuas de pessoas nuas lá! Tentamos ver o pássaro gralha-azul, que dizem ser uma espécie de símbolo da Cidade. Não o encontramos. Infelizmente é mais um animal nativo em extinção. O prêmio consolação foi um picolé sabor milho-verde... irresistível sempre. Que final de semana agradável!

Eu não tinha falado em casa ainda que esta viagem tinha segundas, terceiras e quartas intenções (hehehe). Tinha show marcado na próxima semana em Itapema/SC, eu estava com saudades de grandes amigas que tenho em Blumenau/SC e também queria ir na praia. Enfim, era tão conveniente fazer um grande link no mapa. Quando telefonei minha mãe disse não se surpreender, que já imaginava que eu ia demorar para voltar. Pediu que eu me cuidasse.

Dias intensos e cheios de atividades. Diferentes cidades, momentos hilariantes com meus amigos tão queridos, amigos de amigos, festas divertidas - destaque para nossa noite FENOMENAL na cervejaria Eisebahnn - e muito descanso para os olhos nas praias de Santa Catarina, estado que acho lindíssimo.

Mas houve uma freada brusca no meio de tudo. Durante a semana fui acordada pela notícia da perda de uma pessoa muito querida, pai de uma amiga que considero como irmã. Em horas como esta, de ferimentos graves assim, passam-se vários filmezinhos pela cabeça. Mesmo sem querer, lembramos de tudo que fizemos de significativo, listamos coisas que são especiais, lembramos de  derrotas e tristezas e, como se surgisse uma balança, medimos as dores reais e as imaginárias... entendemos que certos problemas não são tão grandes como pensamos e que tantas outras coisas importam. É costume do ser humano lamentar-se por coisas que não tem, por pessoas que não querem estar próximas. É de se pensar no que e, principalmente, em quem a gente realmente quer por perto.
Como o Tio Gê não andava bem, todos nos preparávamos para seu inevitável desencarne. Eu tinha decidido não chorar, pois acredito na permanência da alma em algum lugar de paz. Mas me vi muito pequena com meu desejo guardado de que isto não acontecesse agora; nem num dia de sol; nem num dia de chuva; nem em dia nenhum... Chorei me desculpando.

Após uns dias, o NDN fez show na Praça da Paz em Itapema, mesmo local do ano anterior. E nas duas vezes foi singular. A mistura do vento do mar com as canções que embalam minha alma provoca deliciosas reações.
Ouvindo eles tocarem uma música que cantei de coração no meu primeiro show quando adolescente, fiquei em silêncio e fechei os olhos. Acho que o passar do tempo está me fazendo enxergar e até mesmo pressentir as mudanças. Mesmo que eu não saiba direito o que está mudando... Mas todas as coisas ao nosso redor mudam constantemente. É como da janela do ônibus, a paisagem do lado de fora se move todo o tempo, às vezes mais rápido, às vezes devagar, mas sempre se move. E é sempre desastrado o ato de tentar pará-la numa fotografia.

Voltamos à Blumenau no domingo...
Desta vez, coisa rara, eu voltaria com a companhia não de livros, mas de uma amiga na viagem de volta. Antes de sair o motorista colocou para entretenimento um um filme dublado. Achei má ideia, pois não gosto do barulho da TV, mas estava tão cansada que adormeci logo. Não sei que filme era nem sobre o que tratava, mas num momento acordei e ouvi de alguma cena: "quando uma viagem termina, uma outra viagem começa".
Saquei!
Ajeitei-me no banco e voltei a sonhar...

domingo, 4 de dezembro de 2011

Nunca mais seremos os mesmos, por mais que a gente tente

Desde que soube da confirmação de um show do Nenhum de Nós em Juiz de Fora/MG a euforia invadiu meus dias. Não é segredo o carinho que tenho pelos mineiros e como gosto de ver a banda por lá. Animação maior ainda foi saber que, um dia antes, estaria no Rio de Janeiro o projeto "Loopcínio". Vejo o Thedy cantando Lupicínio Rodrigues desde sua primeira investida sobre a obra do compositor, numa apresentação intimista com apenas violão e teclado, em 2002. Sem dúvida, eu precisava realizar a viagem!

E não foi nada fácil desta vez...

Vida de quase-jornalista-free-lance-estagiária-que-ganha-pouco é complicada em se tratando de dinheiro. E em épocas de rematricula na faculdade então, nem se fala! Mas me descobri exímia economista. Fiz tantos cálculos que deixaria alguns contadores com inveja. Durante alguns dias minha ocupação principal foi acompanhar sites de vendas de passagens aéreas. Consegui um ótimo preço para meu retorno... mas para a ida, foi "tenso". Não conseguia valor acessível para e eu ainda tinha que pensar em hospedagem. Resolvi então ir de ônibus! Podem ficar chocados! Eu também achei loucura, mas minha vontade de investir nesta empreitada era maior que o medo do possível cansaço de mais de 24 horas dentro de chão. Como companhia levei meu escritor preferido da infância, Julio Verne, com "Vinte mil léguas submarinas". Livro feito para viajantes de plantão, descolados como eu. Como nós. Para minha surpresa, a viagem foi tranquila demais. A estrada estava ótima e foi muito bom passar um tempo a sós comigo mesma, em cúmplice meditação.
Todos precisamos organizar as ideias. Espaço para isto encontro pelas ruas onde passo, caminhando, rodando no ônibus ou avistando pontos da janela do avião...

Sentei próxima da janela e não me separei dela. Passamos por pedestres no acostamento. Para mim, apenas corpos pequeninos que se perdem no betume cego que corta cidades, campos e vidas. Observei que algumas vilas eram tão paradisíacas que pareciam apenas pinturas e sequer percebiam nossa passagem. Vi muita pobreza. Na verdade, a miséria não me causou espanto, mas me fez pensar no tamanho de meus problemas. Será que minhas dores seriam maiores do que as de pessoas esquecidas, que moram em casas com madeiras de tantas cores? Enxerguei simplicidade em placas de "vende-se cabrito" e pessoas tomando banho numa sanga. Mas também vi belezas. Lares abertos com jardins pequenos e crianças brincando. Sem luxo, sem sapatos, com sorrisos.
Ajusto meu banco para viajar com os personagens do livro, que também saem para explorar o desconhecido, abandonando a sorte em algum lugar, cheios de ansiedade e um pouco de medo.

Na tarde do dia 17, cheguei à Cidade Maravilhosa e fui aguardada com honras. Estava à minha espera mais uma querida amiga que a paixão pelo Nenhum me trouxe. Entre tesouros perdidos, as amizades são grande parte da recompensa!
A palavra loucura resume como foi nossa ida para o local do evento. O importante é que chegamos a tempo de escolher um bom lugar e esperar pela magia da noite. No palco do Caixa Econômica Cultural, Thedy Corrêa, Sasha Ambach, Adriana Maciel, Milton Guedes e Jonghi realizaram um espetáculo delicado e moderno ao mesmo tempo. Versões eletrônicas do disco Loopcínio (Orbeat/2004) contrastando com novos arranjos para as letras do Lupi faziam a platéia cantarolar e assoviar. Fiquei arrepiada ao ouvir "Felicidade" outra vez.

Acordei tarde na sexta-feira. Um bom almoço e passeio. Sabe que aqui, os homens da sociedade acharam a favela feia, então, fizeram um muro bem alto. Taparam a verdade das pessoas humildes e sem alternativa. Engessaram suas crianças sujas, seus trabalhos informais, suas leis e seus sambas com letras que só aquele mundo entende... e aceita. Mas se olharmos só para a praia, sim, o Rio de Janeiro continua lindo!

Depois levei para a escola o Cauã, menino de apenas 7 anos muito mais esperto que muito adulto chato que conheço. Na hora de ir embora ganho um forte abraço e levo a mochila cheia de presentes e saudades...

Rumo a Minas Gerais, reencontro o asfalto quente. A chuva nos alcança atrapalhando a visão para a paisagem. No livro, os tripulantes do submarino desbravam as profundezas do oceâno Atlântico; no ônibus penso no que vivi durante o ano. Tanta coisa aconteceu. Se este ano virasse uma obra literária, o título seria "2011 foi um ano bom". Conheci muita gente legal. Abandonei teimosias, quebrei fronteiras, correntes, espelhos e mágoas. Descobri novos amores, novos sabores, novas gírias. Troquei a cor do cabelo, o endereço e a profissão. Abandonei ideias enferrujadas e me abri a outros horizontes. A Jajá que brindou o início do ano com os amigos pouco se parece com a que redige este texto agora, solitária voltando pra casa. Se a mudança foi para bom ou para ruim, só o tempo vai dizer...

A própria visão do Paraíso cruzar a cidade serrana de Petrópolis. Menção solene na frente da cervejaria Bohêmia. Avistando estes morros tão altos penso que somos montanhas mágicas. Não, não estou delirando, sabe aquela história da "fé mover montanhas"? Pois, penso a frase como um enigma. Acredito que o grande segredo é deixar o comodismo de lado, posicionar os pés e começar a caminhar - literalmente. Andar para a frente não deve ser somente uma expressão. Aprendemos que é preciso ter fé para "mover montanhas", mas nada fazemos para mover a nós mesmos. Ao começar a botar o pé na estrada (Jajá On The Road), descobri que sou capaz de verdadeiramente arrastar o mundo inteiro. Não crê? Então olhe para a montanha e caminhe pouco. Vai vê-la mudar de lugar, com certeza.
Abandono a leitura e os pensamentos para tentar dormir. Sei que o fim de semana vai ser agitado, pelo menos é o que sempre espero.

Chegar em solo mineiro é sempre uma satisfação enorme! Juiz de Fora é uma cidade grande e desenvolvida. No hotel, me preparo para tomar banho e já há pouco espaço para carregar as roupas. Constato que preciso de uma mochila maior, pois minhas trilhas estão cada vez mais longas.

O melhor mesmo foi abrir a porta e encontrar mais abraços, beijos e boas notícias. Ter amigos longe de casa tem o lado ruim de sentir falta que é difícil, mas era o momento de matar sem dó nem piedade uma saudade monstra! Matamos!

Nem preciso falar da noite, pois estarei me repetindo quanto a outras aparições do Nenhum por Minas. Emocionante! Ver a banda que tanto amo e jogar conversa fora sobre qualquer filosofia complexa, configuram entre as melhores coisas da vida - da minha vida! A casa do show se chama Cultural Bar e tem um ambiente casual super bacana. Fomos EXTREMAMENTE BEM TRATADOS por todos os envolvidos. Minhas considerações à galera que nos auxiliou em tudo lá dentro. Voltamos felizes =)

"Êita trem bom" dar risadas já no café da manhã. Não tem como a pessoa não ter um ótimo dia depois disso tudo!

E junta-se as malas e segue-se mais estrada. Acho que o mundo é arredondado para que a gente nunca pare de rodar sobre ele. Minha peregrinação continua ao lado das "gurias de Minas". Muita conversa no caminho. Vimos até um trem ENOOOORME. Tão grande que não tinha fim. O maior trem que já vi. As gurias me contaram sobre o "viaduto das almas", curiosidades de estrada.
Estávamos um tanto indispostas, resultado da noite com muita cerveja e pouco descanso (pra variar). Paramos para um pão-de-queijo. Fez tão bem...

Tínhamos pressa, pois havia compromissos em BH. Infelizmente deparamo-nos com um engarrafamento, ou como dizem os mineiros, o trânsito 'tava todo "garrado". Depois de esperar sem sucesso pela liberação da estrada, nos enfiamos atrás de um carro que jurou conhecer uma rota alternativa por estrada de chão. E que alternativa... Muito barro, subida e descida. Nem preciso
citar que nos perdemos, né? Mas chegamos na parte da rodovia onde tudo fluia normalmente. O carro, que enfrentava sua primeira grande aventura, estava irreconhecível. Na verdade ele era pura lama e pó. E a cada quilômetro novas sujeirinhas se acoplavam na lataria. Os nativos diriam que o visual do automóvel era "cabuloso". Viajar em Minas é prazeroso demais, porém as rodovias precisam mesmo de atenção. O caminho desaparecia constantemente por causa da neblina intensa.

Foi bom rever algumas placas. Nas proximidades de Belo Horizonte comecei a sentir o "ventinho no coração" por reencontrar um lugar que gosto tanto e de onde trago sempre cintilante felicidade.
Foi um final de semana raro. Visitamos o Mineirão, a Lagoa da Pampulha e torcemos pelo Cruzeiro - muita alegria! Pude ficar até segunda-feira na capital mineira compartilhando momentos de diversão e aquelas conversinhas terapêuticas, abertas, que só se tem com amigos à beira de uma calçada confidente.


Sem vontade alguma de ir embora, parti para a cidade de Confins. Espero pelo voo e procuro o livro para que os personagens também terminem sua viagem; nada encontrei. Perdi o li o livro em alguma passagem... Mas nem me aborreci. É uma história maravilhosa e espero que quem tenha a fortuna de encontrá-lo aproveite muito e, como eu, possa se inspirar. No "Vinte mil léguas submarinas", Julio Verne narra acontecimentos de um capitão que desiste da humanidade e larga tudo para viver sob as águas em seu submarino.
Realmente não é fácil viver na Terra com tantas pessoas e suas contradições. Mas acho que vale o esforço de acreditar que podemos mudar e aprender a respeitar sentimentos alheios. Temos chance ainda de saber dividir conhecimento e riquezas. De dar mais valor as coisas simples e permitir que nosso espírito evolua.
Eu gosto de ter fé num mundo melhor! E você?