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sexta-feira, 6 de maio de 2011

Obsessão

Sono rápido. Despertador. Sem café. Ônibus. Trem. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trem. Ônibus. Casa. Sono rápido. Trabalho. Trabalho...

Quando a rotina começa a latir atrás de mim, é hora de preparar minha mochila guerreira, abrir o velho mapa e copiar a agenda de shows do Nenhum de Nós.
Gosto muito de viajar. E gosto mais ainda dos shows. Não há coisa mais perfeita que combinar estas paixões.

Alvo: São Paulo
Coordenadas: O Kazebre, Zona Leste.

Que bom se nossa cabeça fosse como a caixa-preta do avião: que guarda um monte de informação e pode ser desligada. Porém, não é assim, então, quando a mente transborda viajo. Curto o roteiro, os lugares, fecho os olhos e imagino que minha caixa-preta está desligada, ainda que por um breve momento.

"Sigo cego pela chuva..."

Meu vôo estava marcado para as sete da manhã do sábado. Adivinha que horas começou a chover? Óbvio: às seis e meia! Eu nem estava à bordo e já sentia enjoo. "É hora de afivelar o sinto e abrir a janela" diz o comissário, que não é o Gordon, mas espero que seja bem amigo do Batman, caso essa banheira resolva cair...
Após curta instabilidade, o vôo seguiu tranquilo. A medida que se paroximava do nosso destino o tempo melhorava. E assim como o céu, o pensamento se abria ENSOLARADO.

"Caminhando sobre as nuvens, andando pelo céu..."

Requisito primordial a quem escolhe dedicar-se a um fã-clube é gostar de pessoas. Pois sempre terá alguém se aproximando para saber mais da banda, dos produtos, correndo atrás de autógrafo ou QUERENDO FAZER AMIGOS. E esta é a parte que mais me atrai. Entrei sozinha no avião, mas várias pessoas queridas embarcaram comigo via Twitter.

Ao chegar no aeroporto de Vira-Copos em Campinas/SP percebi que faria muito calor. Percebi também como é rápido chegar onde se deseja, basta saber o destino certo. Pena que na vida não é tão fácil saber qual o o melhor caminho a seguir.

"Abro portas, sigo pistas..."

Eu ainda não conhecia a cidade. Muita estrada até chegar. A "cidade grande", diziam uns garotos no Terminal Rodoviário Barra Funda, onde estava à minha espera uma fã que recentemente havia conhecido. Enquanto não nos encontrávamos, eu imaginava como ela iria me buscar, pois eu tinha uma curiosidade tremenda de andar no tão falado metrô de São Paulo. E, para minha alegria, andamos - e muito - na Linha Vermelha. Tenho um certo fascínio pelo lado mais, digamos, "street" dos lugares que visito. Gosto de ir à pequenas padarias, ver os ônibus, velhas bancas de revistas, engraxates, pedintes. Então andar no metrô foi só a primeira diversão. Rumamos para a Galeria do Rock. Que, na minha opinião de pessoa tatuada, deveria mudar para "Galeria Tattooada", pois eu nunca tinha visto taaaaantos estúdios Body Piercing juntos. Experiência muito rica. E é verdade que a Vivian riu muito quando eu quis tomar um Toddynho lá... Reconheço não ser a mais radical de minhas atitudes roqueiras, mas tomei! Aí sim, comecei a me sentir "em casa"...

Paisagem carregada. Trânsito barulhento e lento. Muito concreto. Concreto armado dizia Drummond, concreto pixado digo eu.
A cidade é grande sim. É assustadora aos meus pequenos olhos. Mas é linda. Há nela um encanto. Algo oculto. Mescla de perdição e inocência. Não sei quais são suas misturas, impossível dizer, entender. Me encantei em conhecer a Zona Leste, chamada de periferia. Local de onde sai muito grupo de Rap, de Rock, de tudo. Andei no seu comércio popular, nas feiras, o original pastel de feira. Não, não comi, mas vi bem de perto.

Mas e o show, Jajá???

O show é tudo o que estou contando. A primeira canção, na realidade, toca quando dobro o mapa, fecho minha mochila e busco o caminho. E nunca se sabe onde acaba o espetáculo... quando acaba... se acaba mesmo.

"Sigo a sombra dos seus passos sem pensar.
Fecho os meus olhos e deixo você me guiar..."


O Kazebre é uma casa muito legal. Desses lugares que respiram (e transpiram) rock brasileiro dos anos 80. Bom que se diga, é um local para usar tênis e jeans rasgado. Da próxima vez prepararei melhor as roupas. A banda que tocou antes do Nenhum arrebentou no Led, Legião, Beatles. Tem um outro ambiente, menor, onde só tocava IRA!. Eu quase nem adorei, né?! O Nenhum brilhou demais naquele palco escuro e simples. Tocaram ardentemente clássicos como "Jornais" que há tampo a gente não ouvia. Estrearam a "Água e Fogo" do novo disco. Foi um show elétrico. Pulsante. Posso dizer que há tempos não via um público tão a fim. O pessoal curtia demais. Como uma pessoa de hábitos muito sulistas, estranhei a agressividade na hora do show. Foi uma boa festa, com certeza, mas para os mais fortes hehe. Ficamos mais ao lado do palco, onde parecia mais tranquilo.

Emocionante conhecer pessoas que estavam sentindo pela primeira vez o prazer de dançar e cantar num show do Nenhum. Fãs desgarrados que esperaram muito tempo para se encontrar. Como nasci e moro no Rio Grande do Sul, tive que repetir algumas expressões como "bah, tri, tchê, muito certo" porque acharam o máximo eu "falar igual a eles" hahaha. Divertido.

"À procura de qualquer sentido, de qualquer motivo..."

Voltar, como já escrevi e disse muitas vezes, é sempre delicado. Pacto de melancolia e esperança de mudar. Sempre há o que mudar. Voltar sempre deixa marcas. E quando as marcas são positivas, é preciso contar pra todo mundo.

Contei.