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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"Como um anjo caído, fiz questão de esquecer que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira"

O ano é outro... Os tempos são outros...

2011 foi um dos meus melhores anos em relação ao Nenhum de Nós. Pude ir em muitos shows (mais de 30), conheci cidades lindas e pessoas encantadoras enquanto "voava as tranças" nas estradas do país. Tive a chance de passar mais tempo perto destes rapazes que me comovem com sua música e seu carisma. Trago boas recordações e amizades que já são "de infância".

Em dezembro me candidatei à uma bolsa de estudos, resolvi então, ficar só em Porto Alegre. Nas festas de ano novo com parentes, sem muitos barulhos, sem bebidas alcoólicas, sem tumultos, observei que meus sobrinhos estavam crescidos, que meu irmão está com muitos cabelos brancos e minha mãe pouco se parece com a jovem sorridente das fotos guardadas. Notei que ninguém mais olhava as fotos guardadas em minha casa. Percebi que soou estranho quando pensei: MINHA CASA...  E, num cair de ombros, vi como as coisas mudaram em minha ausência e admiti que eu quis mesmo estar longe enquanto o clima não estava bom. Eu não sabia o que fazer com algumas dores, mas eu sabia sempre aonde ir. E fui. Fiz tudo que eu quis e pude me consertar por dentro entre um show e outro. Chegara a hora de cuidar das minhas gentes de novo.
Resolvi realizar programas em casa. Assisti TV com a mãe, cozinhei, fui à churrascos, curti meus primos, tomei sorvete com as crianças, ri de piadas, namorei, brinquei com meu gato e saí nas fotos atrasadas dos álbuns de família. Também proveitei para mandar cartas a amigos distantes e cuidar do nosso jardim. Foi muito bom. Eu diria que foi como uma meditação profunda. Eu nem havia dado por conta de que estava cansada. Dormi bastante... Espreguicei...
Se não acertei todas as horas, acho que fui capaz de recuperar alguns minutos de prazer com pessoas que amo.

Após alguns dias de tranquilidade caseira, soube da agenda da banda. Devido à uma nova experiência jornalística que abracei, me restava somente o último final de semana de janeiro e havia um show marcado que é, como dizem os mais antigos, "um brinco!": o LOOPCÍNIO. Não me delongo em falar sobre o evento pois já externei aqui, neste humilde blog, minha admiração pela música brasileira de essência (MPB, Sambas e afins) e ouvir o Lupe com casaca eletrônica e a percussão dos músicos que acompanham o Thedy nesse projeto é sempre uma satisfação enorme! Mas o local do show era... Curitiba. A família entendeu. Sabem que natureza não se muda e a minha é off road...
Por coincidência, a viagem deveria ser no mesmo dia que sairia o resultado da minha bolsa na PUC/RS. Eu estava nervosa pela bolsa, afinal era um sonho antigo estudar lá; e nervosa porque se não ganhasse logo um "ok" na documentação não viajaria. Finalmente fui aprovada e hoje sou aluna do curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Saí do campus FELIZ DA VIDA!!! E corri para ver se conseguia embarcar a tempo... Descobri que tinha menos de duas horas. Decidi arriscar  e corri para casa. Peguei a mala, mas achei melhor fazer duas mochilas, pois, ANOTEM A DICA: seu uso facilita no sentido de locomoção, distribuição de peso e até nos guardavolumes. Peguei tudo que encontrava sem pensar muito. Como não devemos andar sozinhos por aí, levei como companhia o Eduardo Galeano e seu "As veias abertas da América Latina", livro que, sinceramente, tem o título mais interessante que seu texto, mas ler Galeano sempre enriquece, não é?! O táxi não chegava nunca então fui andando pela rua para encontrá-lo. Alcancei-o e começou a saga. Perdi o show de sexta, mas ainda me restaram sábado e domingo.
E foi FANTÁSTICO!!!
Primeiro porque as apresentações valeram muito a pena! E segundo, fiz as pazes com Curitiba! Não tive sorte nas minhas outras visitas e acabei guardando uma imagem muito fria de lá. Mas desta vez tudo foi bom demais. Talvez por causa do verão, mas acho que meu "guia" super qualificado fez toda a diferença =P Passeamos muito, passamos o domingo todo fotografando os principais atrativos do Centro. Adorei a Praça do Homem Nú, tem estátuas de pessoas nuas lá! Tentamos ver o pássaro gralha-azul, que dizem ser uma espécie de símbolo da Cidade. Não o encontramos. Infelizmente é mais um animal nativo em extinção. O prêmio consolação foi um picolé sabor milho-verde... irresistível sempre. Que final de semana agradável!

Eu não tinha falado em casa ainda que esta viagem tinha segundas, terceiras e quartas intenções (hehehe). Tinha show marcado na próxima semana em Itapema/SC, eu estava com saudades de grandes amigas que tenho em Blumenau/SC e também queria ir na praia. Enfim, era tão conveniente fazer um grande link no mapa. Quando telefonei minha mãe disse não se surpreender, que já imaginava que eu ia demorar para voltar. Pediu que eu me cuidasse.

Dias intensos e cheios de atividades. Diferentes cidades, momentos hilariantes com meus amigos tão queridos, amigos de amigos, festas divertidas - destaque para nossa noite FENOMENAL na cervejaria Eisebahnn - e muito descanso para os olhos nas praias de Santa Catarina, estado que acho lindíssimo.

Mas houve uma freada brusca no meio de tudo. Durante a semana fui acordada pela notícia da perda de uma pessoa muito querida, pai de uma amiga que considero como irmã. Em horas como esta, de ferimentos graves assim, passam-se vários filmezinhos pela cabeça. Mesmo sem querer, lembramos de tudo que fizemos de significativo, listamos coisas que são especiais, lembramos de  derrotas e tristezas e, como se surgisse uma balança, medimos as dores reais e as imaginárias... entendemos que certos problemas não são tão grandes como pensamos e que tantas outras coisas importam. É costume do ser humano lamentar-se por coisas que não tem, por pessoas que não querem estar próximas. É de se pensar no que e, principalmente, em quem a gente realmente quer por perto.
Como o Tio Gê não andava bem, todos nos preparávamos para seu inevitável desencarne. Eu tinha decidido não chorar, pois acredito na permanência da alma em algum lugar de paz. Mas me vi muito pequena com meu desejo guardado de que isto não acontecesse agora; nem num dia de sol; nem num dia de chuva; nem em dia nenhum... Chorei me desculpando.

Após uns dias, o NDN fez show na Praça da Paz em Itapema, mesmo local do ano anterior. E nas duas vezes foi singular. A mistura do vento do mar com as canções que embalam minha alma provoca deliciosas reações.
Ouvindo eles tocarem uma música que cantei de coração no meu primeiro show quando adolescente, fiquei em silêncio e fechei os olhos. Acho que o passar do tempo está me fazendo enxergar e até mesmo pressentir as mudanças. Mesmo que eu não saiba direito o que está mudando... Mas todas as coisas ao nosso redor mudam constantemente. É como da janela do ônibus, a paisagem do lado de fora se move todo o tempo, às vezes mais rápido, às vezes devagar, mas sempre se move. E é sempre desastrado o ato de tentar pará-la numa fotografia.

Voltamos à Blumenau no domingo...
Desta vez, coisa rara, eu voltaria com a companhia não de livros, mas de uma amiga na viagem de volta. Antes de sair o motorista colocou para entretenimento um um filme dublado. Achei má ideia, pois não gosto do barulho da TV, mas estava tão cansada que adormeci logo. Não sei que filme era nem sobre o que tratava, mas num momento acordei e ouvi de alguma cena: "quando uma viagem termina, uma outra viagem começa".
Saquei!
Ajeitei-me no banco e voltei a sonhar...