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terça-feira, 12 de julho de 2011

EU TINHA QUASE 16...

Não quero fazer um texto emocionante. Dispenso palavras pensadas e até mesmo lógica gramatical. Eis um dia extremamente especial para mim. Nada que eu diga precisa ser coerente hoje.
Sei que há muita comemoração por causa do dia Mundial do Rock, mas além disso, hoje é o dia Mundial do meu primeiro show do Nenhum de Nós!!!

Um ano antes houve o lançamento do disco Mundo Diablo e a "Vou deixar que você se vá" era um grande sucesso. Lembro que eu tinha uma fita K7 com esta música gravada várias vezes. Ouvia sem parar a mesma música! Incansavelmente a tarde toda!
Durante o ano seguinte, aconteciam apresentações em celebração aos 10 anos de carreira da banda. E eu acompanhava pelo rádio, pelos jornais, ouvindo alguém comentar. Nunca podia ir. Nem uma vez... Na época, meu pai não deixava. Nunca. Por nada. Eu, obediente, não discutia...
Na escola todos sabiam da minha evidente admiração pelo grupo. A marca NDN aparecia em tudo que eu fazia. Nas redações, nos trabalhos de Educação Artística, nas constantes visitas ao SOE... "É uma menina triste, com problemas de se relacionar com os colegas", diziam os professores. Mas nos meus diários (e eu escrevia muito neles) eu sonhava com um dia feliz. Cada show que eu não podia ir virava uma lamentação só. Encontrei por acaso há alguns anos um desses diários e me lembro de uma frase mais ou menos assim: "(...) um dia vou poder ir a todos os shows do Nenhum e o Thedy sempre vai saber o meu nome. Todos vão me conhecer e quando me virem, perguntarão se estou bem...(...)".
Eu esperei. Fingindo paciência, esperei.

Era julho, não de 83, mas um domingo de 1997. A rádio Atlântida promoveu um especial com a banda e muitos fãs ligavam (a internet não era comum ainda) e ganhavam camisetas, CDS. Eu não tinha telefone. Não ganhei nada. Mas estava tão feliz em ouvir tudo, gravando nas minhas fitinhas. No final do programa, anunciaram um show que ocorreria em Porto Alegre, no domingo próximo, às 4 horas da tarde. Era gratuito pela Campanha do Agasalho em uma praça a céu aberto. E outra vez, como tantas, me enchi de esperança. Quem sabe... Quem sabe...
Era perfeito: à luz do dia, grátis, num domingo!
Meu pai, jogando um tonel de água fria na minha expectativa, disse que não podia me levar. Eu já ia dar espaço à tristeza, e ela vinha com tudo nessas horas, quando minha mãe sugeriu que procurasse uma amiga para ver se os pais dela estariam disponíveis. E a esperança, que eu mantinha forte também, assolou meu rosto juvenil. O pai dela podia nos levar sim! Minha amiga, a Nice, passou o final de semana em minha casa e quase não dormíamos falando em Nenhum de Nós, ouvindo gravações repetidas vezes, sonhando com eles. Fui criada com bastante recato e rigidez, nunca tinha visto um show de uma banda de rock. Aliás, eu nunca tinha visto nada do mundo.

Lembro do nosso caminho até lá. Era longe para nós que saímos de Canoas, cidade ao lado de POA, e ainda tínhamos que descobrir onde ficava a tal PRAÇA DA ENCOL (que atualmente nem pode mais ser chamada assim). Chegamos poucos minutos antes da hora marcada. Estava lotado mas o clima era muito tranquilo e podemos ficar bem próximas ao palco. Ah... Eu poderia contar tudo, exatamente cada detalhe daquele dia. Da grama viva que senti quando sentamos, das conversas de outros adolescentes ao nosso redor, do céu que estava limpo, do sol alto, da música Jornais que dedicaram ao Betinho (a quem não sabe, criador da campanha contra a fome no Brasil), dos óculos de lente azul que o Thedy estava usando, das primeiras palavras que timidamente troquei com eles. Do meu primeiro autógrafo... tudo sobre O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA!!!
Não foi um acaso. Foi sonhado, planejado, DESEJADO por muito tempo!

Eu poderia falar durante horas, dias e anos sobre 13 de julho de 97 porque, depois de cantar tão perto daqueles que compunham as canções que eram minha companhia mais fiel, nasceu outra pessoa de mim. Como se algo me libertasse de correntes pesadas. A efervecência de minha pouca idade fez mais grave ainda aquele momento, mas trago com imenso carinho este dia no meu coração, pois veio dele a vida que tenho hoje. Os verdadeiros amigos que com certeza lerão este blog e que estão sempre comigo.
Quando escolhi o Nenhum de Nós como convívio deixei de ter medo de ir além. Por querer ir aos shows é que aprendi a ter coragem. A questionar, a desafiar. Aprendi a me relacionar com as pessoas. Atrás deles conheci lugares, vivi - e vivo - aventuras que me marcaram. Que ainda me transformam constantemente. E até meu pai, sempre mandão e que não deixava eu sair, hoje canta comigo algumas canções e veste a camiseta da banda para ir aos shows. Ele mudou muito, eu mudei muito. E quero sempre acreditar que mudamos para melhor. Sempre ao som do Nenhum.

Hoje em dia marco mais de 220 shows... E se engana quem insiste em dizer que são dias sempre iguais. Os espetáculos são sempre diferentes, eu sou sempre diferente.

No vídeo abaixo, uma das minha canções preferidas graciosamente dedicada à mim.


E eu a dedico para todos os meus amigos do Sociedade Esportiva e Recreativa Nenhum de Nós Fã-clube, que, assim como a banda, ao longo dos anos me fez ser uma pessoa MAIS FELIZ!!!