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domingo, 4 de dezembro de 2011

Nunca mais seremos os mesmos, por mais que a gente tente

Desde que soube da confirmação de um show do Nenhum de Nós em Juiz de Fora/MG a euforia invadiu meus dias. Não é segredo o carinho que tenho pelos mineiros e como gosto de ver a banda por lá. Animação maior ainda foi saber que, um dia antes, estaria no Rio de Janeiro o projeto "Loopcínio". Vejo o Thedy cantando Lupicínio Rodrigues desde sua primeira investida sobre a obra do compositor, numa apresentação intimista com apenas violão e teclado, em 2002. Sem dúvida, eu precisava realizar a viagem!

E não foi nada fácil desta vez...

Vida de quase-jornalista-free-lance-estagiária-que-ganha-pouco é complicada em se tratando de dinheiro. E em épocas de rematricula na faculdade então, nem se fala! Mas me descobri exímia economista. Fiz tantos cálculos que deixaria alguns contadores com inveja. Durante alguns dias minha ocupação principal foi acompanhar sites de vendas de passagens aéreas. Consegui um ótimo preço para meu retorno... mas para a ida, foi "tenso". Não conseguia valor acessível para e eu ainda tinha que pensar em hospedagem. Resolvi então ir de ônibus! Podem ficar chocados! Eu também achei loucura, mas minha vontade de investir nesta empreitada era maior que o medo do possível cansaço de mais de 24 horas dentro de chão. Como companhia levei meu escritor preferido da infância, Julio Verne, com "Vinte mil léguas submarinas". Livro feito para viajantes de plantão, descolados como eu. Como nós. Para minha surpresa, a viagem foi tranquila demais. A estrada estava ótima e foi muito bom passar um tempo a sós comigo mesma, em cúmplice meditação.
Todos precisamos organizar as ideias. Espaço para isto encontro pelas ruas onde passo, caminhando, rodando no ônibus ou avistando pontos da janela do avião...

Sentei próxima da janela e não me separei dela. Passamos por pedestres no acostamento. Para mim, apenas corpos pequeninos que se perdem no betume cego que corta cidades, campos e vidas. Observei que algumas vilas eram tão paradisíacas que pareciam apenas pinturas e sequer percebiam nossa passagem. Vi muita pobreza. Na verdade, a miséria não me causou espanto, mas me fez pensar no tamanho de meus problemas. Será que minhas dores seriam maiores do que as de pessoas esquecidas, que moram em casas com madeiras de tantas cores? Enxerguei simplicidade em placas de "vende-se cabrito" e pessoas tomando banho numa sanga. Mas também vi belezas. Lares abertos com jardins pequenos e crianças brincando. Sem luxo, sem sapatos, com sorrisos.
Ajusto meu banco para viajar com os personagens do livro, que também saem para explorar o desconhecido, abandonando a sorte em algum lugar, cheios de ansiedade e um pouco de medo.

Na tarde do dia 17, cheguei à Cidade Maravilhosa e fui aguardada com honras. Estava à minha espera mais uma querida amiga que a paixão pelo Nenhum me trouxe. Entre tesouros perdidos, as amizades são grande parte da recompensa!
A palavra loucura resume como foi nossa ida para o local do evento. O importante é que chegamos a tempo de escolher um bom lugar e esperar pela magia da noite. No palco do Caixa Econômica Cultural, Thedy Corrêa, Sasha Ambach, Adriana Maciel, Milton Guedes e Jonghi realizaram um espetáculo delicado e moderno ao mesmo tempo. Versões eletrônicas do disco Loopcínio (Orbeat/2004) contrastando com novos arranjos para as letras do Lupi faziam a platéia cantarolar e assoviar. Fiquei arrepiada ao ouvir "Felicidade" outra vez.

Acordei tarde na sexta-feira. Um bom almoço e passeio. Sabe que aqui, os homens da sociedade acharam a favela feia, então, fizeram um muro bem alto. Taparam a verdade das pessoas humildes e sem alternativa. Engessaram suas crianças sujas, seus trabalhos informais, suas leis e seus sambas com letras que só aquele mundo entende... e aceita. Mas se olharmos só para a praia, sim, o Rio de Janeiro continua lindo!

Depois levei para a escola o Cauã, menino de apenas 7 anos muito mais esperto que muito adulto chato que conheço. Na hora de ir embora ganho um forte abraço e levo a mochila cheia de presentes e saudades...

Rumo a Minas Gerais, reencontro o asfalto quente. A chuva nos alcança atrapalhando a visão para a paisagem. No livro, os tripulantes do submarino desbravam as profundezas do oceâno Atlântico; no ônibus penso no que vivi durante o ano. Tanta coisa aconteceu. Se este ano virasse uma obra literária, o título seria "2011 foi um ano bom". Conheci muita gente legal. Abandonei teimosias, quebrei fronteiras, correntes, espelhos e mágoas. Descobri novos amores, novos sabores, novas gírias. Troquei a cor do cabelo, o endereço e a profissão. Abandonei ideias enferrujadas e me abri a outros horizontes. A Jajá que brindou o início do ano com os amigos pouco se parece com a que redige este texto agora, solitária voltando pra casa. Se a mudança foi para bom ou para ruim, só o tempo vai dizer...

A própria visão do Paraíso cruzar a cidade serrana de Petrópolis. Menção solene na frente da cervejaria Bohêmia. Avistando estes morros tão altos penso que somos montanhas mágicas. Não, não estou delirando, sabe aquela história da "fé mover montanhas"? Pois, penso a frase como um enigma. Acredito que o grande segredo é deixar o comodismo de lado, posicionar os pés e começar a caminhar - literalmente. Andar para a frente não deve ser somente uma expressão. Aprendemos que é preciso ter fé para "mover montanhas", mas nada fazemos para mover a nós mesmos. Ao começar a botar o pé na estrada (Jajá On The Road), descobri que sou capaz de verdadeiramente arrastar o mundo inteiro. Não crê? Então olhe para a montanha e caminhe pouco. Vai vê-la mudar de lugar, com certeza.
Abandono a leitura e os pensamentos para tentar dormir. Sei que o fim de semana vai ser agitado, pelo menos é o que sempre espero.

Chegar em solo mineiro é sempre uma satisfação enorme! Juiz de Fora é uma cidade grande e desenvolvida. No hotel, me preparo para tomar banho e já há pouco espaço para carregar as roupas. Constato que preciso de uma mochila maior, pois minhas trilhas estão cada vez mais longas.

O melhor mesmo foi abrir a porta e encontrar mais abraços, beijos e boas notícias. Ter amigos longe de casa tem o lado ruim de sentir falta que é difícil, mas era o momento de matar sem dó nem piedade uma saudade monstra! Matamos!

Nem preciso falar da noite, pois estarei me repetindo quanto a outras aparições do Nenhum por Minas. Emocionante! Ver a banda que tanto amo e jogar conversa fora sobre qualquer filosofia complexa, configuram entre as melhores coisas da vida - da minha vida! A casa do show se chama Cultural Bar e tem um ambiente casual super bacana. Fomos EXTREMAMENTE BEM TRATADOS por todos os envolvidos. Minhas considerações à galera que nos auxiliou em tudo lá dentro. Voltamos felizes =)

"Êita trem bom" dar risadas já no café da manhã. Não tem como a pessoa não ter um ótimo dia depois disso tudo!

E junta-se as malas e segue-se mais estrada. Acho que o mundo é arredondado para que a gente nunca pare de rodar sobre ele. Minha peregrinação continua ao lado das "gurias de Minas". Muita conversa no caminho. Vimos até um trem ENOOOORME. Tão grande que não tinha fim. O maior trem que já vi. As gurias me contaram sobre o "viaduto das almas", curiosidades de estrada.
Estávamos um tanto indispostas, resultado da noite com muita cerveja e pouco descanso (pra variar). Paramos para um pão-de-queijo. Fez tão bem...

Tínhamos pressa, pois havia compromissos em BH. Infelizmente deparamo-nos com um engarrafamento, ou como dizem os mineiros, o trânsito 'tava todo "garrado". Depois de esperar sem sucesso pela liberação da estrada, nos enfiamos atrás de um carro que jurou conhecer uma rota alternativa por estrada de chão. E que alternativa... Muito barro, subida e descida. Nem preciso
citar que nos perdemos, né? Mas chegamos na parte da rodovia onde tudo fluia normalmente. O carro, que enfrentava sua primeira grande aventura, estava irreconhecível. Na verdade ele era pura lama e pó. E a cada quilômetro novas sujeirinhas se acoplavam na lataria. Os nativos diriam que o visual do automóvel era "cabuloso". Viajar em Minas é prazeroso demais, porém as rodovias precisam mesmo de atenção. O caminho desaparecia constantemente por causa da neblina intensa.

Foi bom rever algumas placas. Nas proximidades de Belo Horizonte comecei a sentir o "ventinho no coração" por reencontrar um lugar que gosto tanto e de onde trago sempre cintilante felicidade.
Foi um final de semana raro. Visitamos o Mineirão, a Lagoa da Pampulha e torcemos pelo Cruzeiro - muita alegria! Pude ficar até segunda-feira na capital mineira compartilhando momentos de diversão e aquelas conversinhas terapêuticas, abertas, que só se tem com amigos à beira de uma calçada confidente.


Sem vontade alguma de ir embora, parti para a cidade de Confins. Espero pelo voo e procuro o livro para que os personagens também terminem sua viagem; nada encontrei. Perdi o li o livro em alguma passagem... Mas nem me aborreci. É uma história maravilhosa e espero que quem tenha a fortuna de encontrá-lo aproveite muito e, como eu, possa se inspirar. No "Vinte mil léguas submarinas", Julio Verne narra acontecimentos de um capitão que desiste da humanidade e larga tudo para viver sob as águas em seu submarino.
Realmente não é fácil viver na Terra com tantas pessoas e suas contradições. Mas acho que vale o esforço de acreditar que podemos mudar e aprender a respeitar sentimentos alheios. Temos chance ainda de saber dividir conhecimento e riquezas. De dar mais valor as coisas simples e permitir que nosso espírito evolua.
Eu gosto de ter fé num mundo melhor! E você?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

3000 léguas caminhei...

Embora tentador, eu decidira não ir. A agenda estava cheia, teriam muitos shows pela frente.

Há pouco tempo eu terminara um trabalho e podia acordar tarde nos próximos dias. Eu lia "Viajante solitário" do Jack Kerouac/L&PM durante a madrugada: "MEUS AMIGOS E EU temos uma maneira especial de nos divertirmos em Nova York sem gastar muita grana e principalmente sem sermos importunados por chatos formalistas (...) Vagabundos sem rumo como crianças". Assim falava-me a página 133 do livro.

Já passava das 4h30min da manhã e eu não conseguia dormir. Apaguei a luz, mudei o travesseiro, abri e fechei a janela. Nada de sono. Peguei o notebook outra vez e comecei a navegar em sites de companhias aéreas. Ainda havia lugares para alguns voos de logo mais, na manhã de sexta. Achei loucura, não era prudente sair sem planos, o que eu ia dizer em casa? Achei a minha cara! Comprei a passagem. Só de ida. O porque eu não sei, mas me senti feliz e completa. Consegui dormir.

Acordei em cima da hora (típico de mim) e arrumei a mala - leia-se mochila - em menos de 10 minutos. No aeroporto Salgado Filho, a Presidenta Dilma saia rodeada de seguranças, jornalistas e curiosos, enquanto eu, entrava sozinha. O voo foi direto à Confins/MG. Desembarquei e pensei: e agora? Agir e depois pensar não é aconselhável, ok? Mas parecia tão certo fazer as coisas daquela maneira. Tenho vivido dias intensos em busca de desvendar o significado de LIBERDADE. Tatuei a frase "Você precisa ser livre" (de uma canção do Nenhum) no braço como representação da vontade de descobrir mais sobre mim mesma e sobre o universo diante de meus olhos. Tento não me prender à amarras ou conceitos. É um lance de sentir o vento batendo na cara, sabe? Sem exageros.

Acabou a bateria do celular. Eu não tinha como ligar para ninguém. Me restou ir atrás de informações de como chegar na cidade de... eu não lembrava mais o nome de onde teria show naquela noite. Tive que dar uma risada interna. Aproveitei e tomei um café no aeroporto antes de ir para Belo Horizonte, pois eu sabia que somente de lá seria possível partir para algum outro lugar. Eu andava, muito concentrada pensando no que fazer, quando alguns integrantes da banda me encontraram. Muito legal isso! Acho que tais coincidências emanam energias positivas.

Chamou minha atenção a quantidade de focos de queimadas por onde passava. Cheguei a pensar que poderia ser alguma técnica de plantio, mas depois soube que não chovia há meses na região. E é gritante o desgaste da vegetação e no clima.

Conselheiro Lafaiete ficava há uma hora de BH. Embora não muito grande, tem sua estrutura urbana bem desenvolvida e vários hotéis, pois o município recebe crescente número de pessoas que viajam a trabalho. O show aconteceu num clube espaçoso e bonito! No início o público parecia quieto e me senti um pouco deslocada. O Thedy começou a interagir bastante e, no decorrer da noite, estavam todos dançando. Foi bem bacana! Mais bacana ainda foi quando eles me viram na platéia e o Veco me jogou um beijo. Aí já me valeu a viagem toda! Eles não imaginam, mas um aceno, uma resposta ainda que pequena, faz um fã explodir de emoção. E quando falo FÃ, me refiro aqueles que curtem de coração. E o Nenhum de Nós tem muitos fãs pra valer porque nos tratam com muito respeito e, por que não dizer, CARINHO. Acho que nós, admiradores profundos da banda, somos "mimados" demais por esses caras. Como se diz em Minas: "Êêê, trem bom!"

No sábado, aproveitei para passear pela encantadora Belo Horizonte. Na rodoviária oferece-se um guia, uma espécie de mapinha, com os principais atrativos do Centro. Adorei suas ruas e praças, inclusive, identifiquei semelhanças com Porto Alegre. Foi uma tarde de compras, lindas fotos e, claro, pão-de-queijo. O dia sumia entre estrelas e ainda havia uma estrada longa até Divinópolis. Seguiu-se pouco mais de duas horas com a rodovia bastante movimentada.

Em Divinópolis... bah, ou melhor, "uai"! Sem palavras!!! Além de ser muito bom reencontrar as amigas, foi uma das mais emocionantes apresentações que já curti do grupo em termos de VIBRAÇÃO. O pessoal cantou absolutamente TODAS as músicas com muita paixão. Ninguém queria que eles deixassem o palco. Nossa! Esses mereciam um show de 3 horas! Foi muito especial estar ali compartilhando uma alegria quase que sólida.

Que povo mais simpático! Os mineiros me deixaram encantada. Pessoas muito bem humoradas e educadas na sua maioria. Não vejo a hora de voltar... Sentimento louco que acontece com a gente que viaja seguido. Às vezes, rola uma "paixonite" por algum lugar. Dá vontade de não sair mais de lá.

Quase de manhã voltamos para o hotel e ficamos bebendo mais uma (ou duas) cerveja antes de subir. E pensávamos em ir ou não para o show de domingo. Seriam duas horas dirigindo até Belo Horizonte e depois mais três horas até Coronel Fabriciano. Era arriscado, pensei. Como não conheço a rodovia, não insisti. Confesso: fiz algumas vezes aquela carinha de Natal... Mas como adultas responsáveis que somos, decidimos não ir. Nos despedimos da banda e eu fiquei para tomar café e dormir depois. Adorei comer um queijo-minas em Minas! Aliás, em todos os hotéis que passei em MG os cafés foram "porreta". Num sono profundo, perto de 8 horas, alguém batia na porta. Era uma das gurias, me avisando que ia a um hospital da cidade. Fiquei assustada e ela disse para não me preocupar. Como minha cabeça ainda sentia os efeitos da bebida dos dias anteriores e o corpo já dava evidentes sinais de cansaço, logo esqueci e dormi outra vez. Às 11 horas, conforme combinado, me chamaram. Acordei sem vontade, me organizei rapidamente e desci, pronta para ir à BH e curtir um dia tranquilo e sereno antes de voltar para o Sul... Ledo engano!!! Olha que já vi de tudo, mas não acreditei quando o trio que me aguardava perguntou: "- Pronta para encarar uma viagem até Coronel Fabriciano?". Não podia ser. E o perigo da estrada? E o hospital? Eu estava bêbada ainda? Era um sonho? Nada disso! Falavam muito sério. "uma simples questão de ir ou de ficar..." Voltei ao quarto e troquei de roupa... On the road...

O Contos de Água e Fogo foi nosso companheiro na empreitada rumo a cidade que nenhuma de nós havia pisado antes. Não sabíamos ao certo quais placas obedecer, se era a rota certa. Mas a realidade da gente é assim, nem sempre se sabe no que vão dar as escolhas. Com este estilo de vida que escolhi aprendi que o importante é mirar um destino e ir em frente sem medo. E assim seguimos. Contando histórias, descobrindo novas músicas, trocando experiências e risadas que nunca acabam.  O achado mais incrível: acetona sabor tutti-frutti. E a pergunta que não calou: "Para quê serve uma acetona com sabor?" hahahaha. O caminho foi bom. Se eu ainda tinha alguma dúvida de que deveria estar alí, acabou de vez entre as curvas de um asfalto mal cuidado. Eu era tipo, um animalzinho que foge do zoo e encontra seu habitat natural. Tudo estava em seu devido lugar.

Chegamos a uma cidade pequena e a mais humilde do trajeto. O espetáculo foi na praça, aberta e lotada. Estávamos bem cansadas e a melancolia da despedida já brisava sobre nós. Saudade querendo avisar que vai aparecer em breve.

No hotel lembro do Thedy me perguntar se tinha valido a pena, e SIM foi a resposta. Na verdade, não há como dizer o quanto valeu. É daquelas coisas que, talvez, só desenhando se possa explicar...

Tarde de segunda-feira, eu com alguns integrantes da banda novamente no aeroporto. Meu voo era mais tarde. Voltei de olhos fixos na janela, como a dar um abraço de despedida no estado que me deu um final de semana ímpar. Lembrarei para sempre!

Piso em Porto Alegre, descanso e penso: - SEMPRE VALE A PENA!!!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Votem no Prêmio Vagalume 2011!

Amigos fãs! O blog está participando do Prêmio Vagalume 2011, na categoria "Fã site".
Cliquem no link abaixo para votar neste site dedicado ao Nenhum de Nós ;)

http://www.vagalume.com.br/premio/fasites/3ade68b5ge517eda3/

Super obrigada!!!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"No céu havia nove luas e nunca mais encontrei minha casa..."

A criação deste texto vai ser um pouco diferente dos outros. Desta vez saio "armada" com bloco de anotações, caneta e Iphone para registrar em tempo real mais uma viagem. É como se todos vocês, que sempre visitam o blog, embarcassem junto comigo na aventura a partir de agora.
Espero que gostem ;)

[Porto Alegre RS, 20:45pm, quinta 18/8/11] Estou na rodoviária de Porto Alegre, pronta para partir. Já conferi a mala: Dinheiro, ok. Documentos, ok. Câmera, ok. Toddynhos, ok. Viajarei durante a noite, pois não havia outras opções. Serão 9 horas de chão rumo à Blumenau/SC. Lá encontrarei velhas amigas que já me aguardam com a "caixa verde" pronta e, depois que chegar lá... mais estrada...[*]

[21:02pm] Partindo...[*]

[22:17pm] Viagem tranquila. Quase um silêncio total. Algumas luzinhas refletem o som do folhear de livros e revistas. Também tenho uma revista e tento ler para desconectar do Twitter um pouco. O caminho até aqui é bem conhecido. Lembro sempre de veraneios em família, na época que meu pai tinha um fusca e o bagageiro vinha lotado com nossas malas, cadeiras e raquetes de frescobol. Tempos divertidos... Já estou quase lançando âncora no passado quando o ônibus muda a rota linear e entra na rodoviária da cidade praiana de Osório/RS. Poucos aguardam no embarque. Duas pessoas atraem minha atenção: um rapaz com jaqueta camuflada e cabelo muito curto e uma senhora que deu três abraços carinhosos nele. Evidente que é mãe e filho. O cara deve estar partindo para servir em algum posto militar distante. Ele entra sério, com uma mala pequena, e vai para os bancos do fundo. Ela, do lado de fora, olha as janelas escuras do ônibus, nada pode ver. Mas eu posso. E vejo suas mãos velhas apertadas na altura do peito e um olhar profundo e aflito que só as mães detém. E escrevo "detém" porque elas cuidadosamente nos protegem dele para sempre acharmos que está tudo bem (e achamos). O vento forte arrasta alguns papéis e folhas enquanto vamos embora. A senhora fica. Imaginei-a por um momento correndo atrás do carro, dizendo "devolva meu filho! Não vá..." como em cenas de filme, sabe? Se fez mesmo isto, nunca vou saber. Ajeito meu casaco e penso "os que ficam; os que partem". Seguimos. Em respeitoso silêncio.[*]

[01:00am, sexta 19] Já estou com sono e cansada de rodar quando é hora do lanche no restaurante Japonês. Procuro cigarros e lembro que parei de fumar... Desço para comprar mais Toddynhos.[*]

O bom de viajar também é o percurso. Os tipos curiosos que a gente encontra. Ouvi muitas histórias de caminhoneiro até chegar em Blumenau. Também conheci um homem que conserta fios e postes de luz em locais de difícil acesso pelo interior. Profissões curiosas.

[04:52am] Por que não sou como as pessoas normais que apagam com o balanço do ônibus? Porque fico aqui querendo saber sobre as cidadezinhas que vemos ao longe e de estrelas que aparecem e desaparecem? Será que eu ainda acho que vai sair alguma fada do meio da floresta? Lembro de vários poemas do Manoel Bandeira... Quintana... Fone de ouvido... "Igual às folhas das folhas da relva que esperam um vento que às vezes não vem..." ZZZZzzz ZZZzz zzz... Sono... ZZzzz... "Um vento que às vezes não vem..." ZZZzzz ZZZzz zz zzzzzzzz... zzzz [*]

[Blumenau SC, 06:40am] Com a cara de quem foi atropelado por uma jamanta, chego em Blumenau ao clarear do dia. Sim, "raiar" não dá para falar, pois o tempo fechou mesmo. Estamos naquele "chove-não-molha" por aqui. Agora é torcer muito para não chover na cidade catarinense de Guaramirim, é lá que o Nenhum fará show esta noite.[*]

Dia de passeio na cidade da OktoberFets e pequenos cochilos no carro. Sono e cansaço. Quem pensa que vida de fã é fácil? "Né não!" haha.
Como de costume, nos jogamos em busca de energéticos! Quanto maior a garrafa pelo menor preço, melhor! A caixa térmica, carinhosamente chamada de "caixa verde" está cheia de gelo e abastecida com o que a vó das Gurias chama de "porcarias". Mas para nós, só tem mantimentos ESSENCIAIS! Artefatos que garantem a animação. Sono? Já era! Preguiça? Nããão! Agora tudo o que queremos é cantar e dançar juntos mais uma vez! Quem dirige não bebe. Eu não dirijo...
O som do carro é novo, mas houve um pequenino problema técnico e só estava rodando três músicas do Ipod. Três músicas populares por quilômetros e quilômetros!

[ Guaramirim SC 20:10pm] Chegamos em Guaramirim e o espaço do evento é bastante adequado. Ótima instalações e, como o Thedy sempre diz no show, tem tudo para ser uma noite i-nes-que-cível. O vice-prefeito (com a reforma ortográfica agora é viceprefeito?) veio nos cumprimentar e todos foram muito simpáticos no local. Como era de se prever, os condimentos alcóolicos da "caixa verde" já acabaram e estamos agora esperando pelo CLIMAX: o show![*]

[22:50pm] A banda entra e o povo surta![*]

[23:00pm] Estamos tirando muitas fotos e nos divertindo sem parar. Pessoas trazem "drinks estranhos".[*]

Sabem... a distância foi longa. O caminho cansativo. Foi preciso fazer cálculos e economizar. Mas quando estamos efetivamente juntos, dando as mãos, compartilhando nossas vidas lidas nas canções e nos abraçando, qualquer dificuldade que tenha surgido no percurso desaparece. Esta é a recompensa, enfim. Uma alegria impossível de narrar ou desenhar.

[??:??] Não sei as horas. Agregamos mais amigos por aqui e rumamos para outra cidade onde dormiremos. Beijo.[*]

[Joinville SC 8:02am, sábado 20] Inacreditável! Só pode ser sonho. Não... tem sim um despertador tocando a esta hora =/ Pernoitamos em Joinville/SC e cedo já estamos prontas para continuar. Seguimos em cima da hora para Curitiba/PR.[*]

Caminho curto e sem dificuldades. Mas foi uma tortura, por volta do meio-dia, passar em frente às dezenas de churrascarias daquela região. Fome! Fome! Fome!
A estada na cidade foi tranquila. Preciso confessar que já estive em lugares mais simpáticos. Generalizando, é claro. Os taxistas curitibanos não são cordiais e leva muito tempo até se conseguir um "bom dia" por aqui. Mas o show foi ESPETACULAR! Há tempo não curtia cinco, EU DISSE CINCO, músicas no "bis". Nem preciso dizer que nos divertimos muito. Lá conheci mais uma peeenca de gente super legal! Fico sempre de veras emocionada quando alguém se aproxima e diz que esperava me conhecer. Eu adoro ser fã do Nenhum de Nós e gosto ainda mais de poder dividir tantas felicidades com outras pessoas, com outros fãs. São as pessoas da "minha tribo" saca?
Foi um belíssimo final de semana, na companhia de bons amigos de longa data e novos conhecidos (também já especiais).

[Curitiba PR 18:40pm, domingo 21/8/11] Estou na rodoviária de Curitiba e o ônibus me aguarda.[*]

Pode parecer loucura, mas ao pegar minha mochila, tive a impressão de ouví-la perguntar "e agora, para onde vamos?" Eu, mentalmente respondi "em frente, amiga. Em frente."

E partimos as duas, muito satisfeitas...


terça-feira, 12 de julho de 2011

EU TINHA QUASE 16...

Não quero fazer um texto emocionante. Dispenso palavras pensadas e até mesmo lógica gramatical. Eis um dia extremamente especial para mim. Nada que eu diga precisa ser coerente hoje.
Sei que há muita comemoração por causa do dia Mundial do Rock, mas além disso, hoje é o dia Mundial do meu primeiro show do Nenhum de Nós!!!

Um ano antes houve o lançamento do disco Mundo Diablo e a "Vou deixar que você se vá" era um grande sucesso. Lembro que eu tinha uma fita K7 com esta música gravada várias vezes. Ouvia sem parar a mesma música! Incansavelmente a tarde toda!
Durante o ano seguinte, aconteciam apresentações em celebração aos 10 anos de carreira da banda. E eu acompanhava pelo rádio, pelos jornais, ouvindo alguém comentar. Nunca podia ir. Nem uma vez... Na época, meu pai não deixava. Nunca. Por nada. Eu, obediente, não discutia...
Na escola todos sabiam da minha evidente admiração pelo grupo. A marca NDN aparecia em tudo que eu fazia. Nas redações, nos trabalhos de Educação Artística, nas constantes visitas ao SOE... "É uma menina triste, com problemas de se relacionar com os colegas", diziam os professores. Mas nos meus diários (e eu escrevia muito neles) eu sonhava com um dia feliz. Cada show que eu não podia ir virava uma lamentação só. Encontrei por acaso há alguns anos um desses diários e me lembro de uma frase mais ou menos assim: "(...) um dia vou poder ir a todos os shows do Nenhum e o Thedy sempre vai saber o meu nome. Todos vão me conhecer e quando me virem, perguntarão se estou bem...(...)".
Eu esperei. Fingindo paciência, esperei.

Era julho, não de 83, mas um domingo de 1997. A rádio Atlântida promoveu um especial com a banda e muitos fãs ligavam (a internet não era comum ainda) e ganhavam camisetas, CDS. Eu não tinha telefone. Não ganhei nada. Mas estava tão feliz em ouvir tudo, gravando nas minhas fitinhas. No final do programa, anunciaram um show que ocorreria em Porto Alegre, no domingo próximo, às 4 horas da tarde. Era gratuito pela Campanha do Agasalho em uma praça a céu aberto. E outra vez, como tantas, me enchi de esperança. Quem sabe... Quem sabe...
Era perfeito: à luz do dia, grátis, num domingo!
Meu pai, jogando um tonel de água fria na minha expectativa, disse que não podia me levar. Eu já ia dar espaço à tristeza, e ela vinha com tudo nessas horas, quando minha mãe sugeriu que procurasse uma amiga para ver se os pais dela estariam disponíveis. E a esperança, que eu mantinha forte também, assolou meu rosto juvenil. O pai dela podia nos levar sim! Minha amiga, a Nice, passou o final de semana em minha casa e quase não dormíamos falando em Nenhum de Nós, ouvindo gravações repetidas vezes, sonhando com eles. Fui criada com bastante recato e rigidez, nunca tinha visto um show de uma banda de rock. Aliás, eu nunca tinha visto nada do mundo.

Lembro do nosso caminho até lá. Era longe para nós que saímos de Canoas, cidade ao lado de POA, e ainda tínhamos que descobrir onde ficava a tal PRAÇA DA ENCOL (que atualmente nem pode mais ser chamada assim). Chegamos poucos minutos antes da hora marcada. Estava lotado mas o clima era muito tranquilo e podemos ficar bem próximas ao palco. Ah... Eu poderia contar tudo, exatamente cada detalhe daquele dia. Da grama viva que senti quando sentamos, das conversas de outros adolescentes ao nosso redor, do céu que estava limpo, do sol alto, da música Jornais que dedicaram ao Betinho (a quem não sabe, criador da campanha contra a fome no Brasil), dos óculos de lente azul que o Thedy estava usando, das primeiras palavras que timidamente troquei com eles. Do meu primeiro autógrafo... tudo sobre O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA!!!
Não foi um acaso. Foi sonhado, planejado, DESEJADO por muito tempo!

Eu poderia falar durante horas, dias e anos sobre 13 de julho de 97 porque, depois de cantar tão perto daqueles que compunham as canções que eram minha companhia mais fiel, nasceu outra pessoa de mim. Como se algo me libertasse de correntes pesadas. A efervecência de minha pouca idade fez mais grave ainda aquele momento, mas trago com imenso carinho este dia no meu coração, pois veio dele a vida que tenho hoje. Os verdadeiros amigos que com certeza lerão este blog e que estão sempre comigo.
Quando escolhi o Nenhum de Nós como convívio deixei de ter medo de ir além. Por querer ir aos shows é que aprendi a ter coragem. A questionar, a desafiar. Aprendi a me relacionar com as pessoas. Atrás deles conheci lugares, vivi - e vivo - aventuras que me marcaram. Que ainda me transformam constantemente. E até meu pai, sempre mandão e que não deixava eu sair, hoje canta comigo algumas canções e veste a camiseta da banda para ir aos shows. Ele mudou muito, eu mudei muito. E quero sempre acreditar que mudamos para melhor. Sempre ao som do Nenhum.

Hoje em dia marco mais de 220 shows... E se engana quem insiste em dizer que são dias sempre iguais. Os espetáculos são sempre diferentes, eu sou sempre diferente.

No vídeo abaixo, uma das minha canções preferidas graciosamente dedicada à mim.


E eu a dedico para todos os meus amigos do Sociedade Esportiva e Recreativa Nenhum de Nós Fã-clube, que, assim como a banda, ao longo dos anos me fez ser uma pessoa MAIS FELIZ!!!

terça-feira, 7 de junho de 2011

Veja quem são os seus amigos

Quando se escolhe seguir uma banda, deve-se estar preparado para a reprovação.
A primeira coisa que as pessoas te falam é que é uma "perda de tempo", "gasto desnecessário de dinheiro" e que "você não tem mais idade pra isso".
É claro que se usa muito tempo. Precisa sim, de dinheiro (mas nem tanto). Agora expliquem, em que idade se sai com os amigos no show da banda que você gosta? Qual a soma de aniversários certa para viajar e conhecer lugares lindos e curiosos? Com quantos anos se pode deixar levar por uma dança de braços abertos? Quando se pode sonhar...?

As cidades deste post, me marcaram muito e nos fizeram percorrer longos e diferentes caminhos. Não falo só da distância física, que é grande uma da outra, mas de descobertas sobre mim mesma. Coisas que não vou escrever aqui, mas que estão tatuadas, não só na minha pele, mas em meus passos e minhas atitudes.

Nos shows na Praia do Cassino/RS e Bagé/RS recebemos uma fã de Minas Gerais. Ela viu nos pampas gaúchos pela primeira vez uma OVELHA. Verdade! Foi muito divertido.
Em Marau/RS a onda é sempre outra. Foi, há muito tempo, nossa primeira "grande viagem", o local mais longe que nos aventuramos na época. Então, sempre que rumamos para lá, voltam as recordações daquele dia e vivemos novas peripécias. O pessoal do Hotel Confort que diga rsrsrs.

Por essas e tantas, agradeço a Carlão, Thedy, Veco, Sady e João Vicenti. Simplesmente por existirem e terem escolhido formar a banda que me move por aí.

Eu gosto de migrar com meus amigos para qualquer lugar. Mas quando estamos indo aos shows do Nenhum as atividades, as conversas e a energia são outras. Se pensa em coisas boas. Se fala de música e ela nos tráz a carga positiva que muitas vezes precisamos para nos reinventar. E nos reinventamos. E reinventamos o mundo.

Uma das curvas que vou guardar no mapa do coração foi um momento de silêncio do carro. Onde podia-se ver apenas verde e o céu azul do nosso retorno. Tocava de súbito no rádio uma música que falava no Dom Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança. Bastou um, não mais que um olhar para nos entendermos. Nos abraçarmos com os olhos enquanto estes se enxeram d´água...

Entendo que eventualmente precisamos ficar sozinhos. Ás vezes, quando passamos por uma casinha pequena de beira de estrada. Humilde, ao lado de uma plantação de bananas, laranjas ou qualquer coisa. Tenho desejo de descer do carro. Deixar a mochila, o passado, tudo para trás. Dá vontade de sentar perto de um açude e ficar alí muito tempo, até que todas as perguntas ganhem suas respostas. Imagino que das janelas tão pequenas dessas casas simples e coloridas, o dia pode nascer sempre com sol. Sem chuva fria... sem neblina... Silêncios são necessários.
Mas se você tem uma vida, mesmo que muito boa, mas não há com quem dividí-la, tudo perde o sentido. Não consigo supor que alguém seja feliz sem conviver com pessoas que tem afinidade e até mesmo quando não se parecem. Não se sabe exatamente porque as pessoas ficam amigas. O mistério também faz parte do encanto.
Amigos também brigam, sabia? E nós sabemos ainda melhor... Alguns trechos nessas estradas pesaram. Alguns pneus furaram. Mas a gente consertou. Pessoas também se remendam.
Os amigos também servem para horas de desabafo...

Penso: o que seria de mim sem um abraço numa canção que me emociona ou na frente do portão quando retornamos pra casa?

Meu mapa está bem velho e amassado, mas quando olho para ele, não vejo placas ou rodovias, enxergo boas risadas, erros, acertos, a história de nossas vidas em tantas esquinas. Aventuras que não se repetirão e que se eternizam em algumas fotos pra lembrar...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Obsessão

Sono rápido. Despertador. Sem café. Ônibus. Trem. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trem. Ônibus. Casa. Sono rápido. Trabalho. Trabalho...

Quando a rotina começa a latir atrás de mim, é hora de preparar minha mochila guerreira, abrir o velho mapa e copiar a agenda de shows do Nenhum de Nós.
Gosto muito de viajar. E gosto mais ainda dos shows. Não há coisa mais perfeita que combinar estas paixões.

Alvo: São Paulo
Coordenadas: O Kazebre, Zona Leste.

Que bom se nossa cabeça fosse como a caixa-preta do avião: que guarda um monte de informação e pode ser desligada. Porém, não é assim, então, quando a mente transborda viajo. Curto o roteiro, os lugares, fecho os olhos e imagino que minha caixa-preta está desligada, ainda que por um breve momento.

"Sigo cego pela chuva..."

Meu vôo estava marcado para as sete da manhã do sábado. Adivinha que horas começou a chover? Óbvio: às seis e meia! Eu nem estava à bordo e já sentia enjoo. "É hora de afivelar o sinto e abrir a janela" diz o comissário, que não é o Gordon, mas espero que seja bem amigo do Batman, caso essa banheira resolva cair...
Após curta instabilidade, o vôo seguiu tranquilo. A medida que se paroximava do nosso destino o tempo melhorava. E assim como o céu, o pensamento se abria ENSOLARADO.

"Caminhando sobre as nuvens, andando pelo céu..."

Requisito primordial a quem escolhe dedicar-se a um fã-clube é gostar de pessoas. Pois sempre terá alguém se aproximando para saber mais da banda, dos produtos, correndo atrás de autógrafo ou QUERENDO FAZER AMIGOS. E esta é a parte que mais me atrai. Entrei sozinha no avião, mas várias pessoas queridas embarcaram comigo via Twitter.

Ao chegar no aeroporto de Vira-Copos em Campinas/SP percebi que faria muito calor. Percebi também como é rápido chegar onde se deseja, basta saber o destino certo. Pena que na vida não é tão fácil saber qual o o melhor caminho a seguir.

"Abro portas, sigo pistas..."

Eu ainda não conhecia a cidade. Muita estrada até chegar. A "cidade grande", diziam uns garotos no Terminal Rodoviário Barra Funda, onde estava à minha espera uma fã que recentemente havia conhecido. Enquanto não nos encontrávamos, eu imaginava como ela iria me buscar, pois eu tinha uma curiosidade tremenda de andar no tão falado metrô de São Paulo. E, para minha alegria, andamos - e muito - na Linha Vermelha. Tenho um certo fascínio pelo lado mais, digamos, "street" dos lugares que visito. Gosto de ir à pequenas padarias, ver os ônibus, velhas bancas de revistas, engraxates, pedintes. Então andar no metrô foi só a primeira diversão. Rumamos para a Galeria do Rock. Que, na minha opinião de pessoa tatuada, deveria mudar para "Galeria Tattooada", pois eu nunca tinha visto taaaaantos estúdios Body Piercing juntos. Experiência muito rica. E é verdade que a Vivian riu muito quando eu quis tomar um Toddynho lá... Reconheço não ser a mais radical de minhas atitudes roqueiras, mas tomei! Aí sim, comecei a me sentir "em casa"...

Paisagem carregada. Trânsito barulhento e lento. Muito concreto. Concreto armado dizia Drummond, concreto pixado digo eu.
A cidade é grande sim. É assustadora aos meus pequenos olhos. Mas é linda. Há nela um encanto. Algo oculto. Mescla de perdição e inocência. Não sei quais são suas misturas, impossível dizer, entender. Me encantei em conhecer a Zona Leste, chamada de periferia. Local de onde sai muito grupo de Rap, de Rock, de tudo. Andei no seu comércio popular, nas feiras, o original pastel de feira. Não, não comi, mas vi bem de perto.

Mas e o show, Jajá???

O show é tudo o que estou contando. A primeira canção, na realidade, toca quando dobro o mapa, fecho minha mochila e busco o caminho. E nunca se sabe onde acaba o espetáculo... quando acaba... se acaba mesmo.

"Sigo a sombra dos seus passos sem pensar.
Fecho os meus olhos e deixo você me guiar..."


O Kazebre é uma casa muito legal. Desses lugares que respiram (e transpiram) rock brasileiro dos anos 80. Bom que se diga, é um local para usar tênis e jeans rasgado. Da próxima vez prepararei melhor as roupas. A banda que tocou antes do Nenhum arrebentou no Led, Legião, Beatles. Tem um outro ambiente, menor, onde só tocava IRA!. Eu quase nem adorei, né?! O Nenhum brilhou demais naquele palco escuro e simples. Tocaram ardentemente clássicos como "Jornais" que há tampo a gente não ouvia. Estrearam a "Água e Fogo" do novo disco. Foi um show elétrico. Pulsante. Posso dizer que há tempos não via um público tão a fim. O pessoal curtia demais. Como uma pessoa de hábitos muito sulistas, estranhei a agressividade na hora do show. Foi uma boa festa, com certeza, mas para os mais fortes hehe. Ficamos mais ao lado do palco, onde parecia mais tranquilo.

Emocionante conhecer pessoas que estavam sentindo pela primeira vez o prazer de dançar e cantar num show do Nenhum. Fãs desgarrados que esperaram muito tempo para se encontrar. Como nasci e moro no Rio Grande do Sul, tive que repetir algumas expressões como "bah, tri, tchê, muito certo" porque acharam o máximo eu "falar igual a eles" hahaha. Divertido.

"À procura de qualquer sentido, de qualquer motivo..."

Voltar, como já escrevi e disse muitas vezes, é sempre delicado. Pacto de melancolia e esperança de mudar. Sempre há o que mudar. Voltar sempre deixa marcas. E quando as marcas são positivas, é preciso contar pra todo mundo.

Contei.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

o amor virá quando tudo isso passar...

Partindo para Santa Catarina num sábado de muita chuva. Nos jornais, notícias das enchentes. Talvez os shows sejam adiados.
Minha mãe liga no meio da tarde e pede para que eu cancele a viagem, pois a chuva está aumentando. Pensei e, como eu esperava, fechei a mochila e botei o pé na estrada!
Segui acompanhando a previsão do tempo pelo twitter, cada vez mais chovia. Os amigos de SC estavam preocupados e em dúvida se deveriam arriscar. Nós, saídos do RS, também. Existiam vários motivos para não ir: rodovia interditada, acidentes pelo caminho, perigos. Mas a chance de nos encontrarmos mais uma vez; de simplesmente estarmos próximos; foi o que nos fez, cada um com seu recurso, encarar a tempestade e seguir para os dois shows que conteceriam (ou não) em Itapema e na Praia Brava.
Aos poucos, fomos nos encontrando pelas rodoviárias. E a viagem seguia estranha para todos. Caia o mundo e mesmo assim, insistíamos em "chegar lá".

Pela janela do ônibus, vi cenas que marcaram, como casas destelhadas e ruas transbordando lama e água suja para dentro de pátios humildes das pequenas cidades cortadas pela BR-101. Na hora pensei que, mesmo se não acontecessem os shows, algo valeria a pena. Presenciar os estragos deste temporal me trouxe mais que espanto. Encheu-me de humanidade, resignação diante da mãe-natureza e um enorme respeito à vida.

Em Florianópolis a chuva não dava trégua. Passamos para um resgate de fã em São José. E, agora sim, faltava pouco para chegar ao primeiro show do final de semana. Muita expectativa.
Qual não é nossa felicidade ao perceber que nos seguiam agora, apenas chuviscos. Sim, o céu finalmente estava parando de arremessar seus baldes d'água!
A apresentação foi ao ar livre e a banda tocou lindamente para uma platéia entusiasmada. Quase no final do espetáculo, o céu, certamente emocionado pelas canções, começou a chorar outra vez. Mas ninguém reclamou. A chuva não incomodava mais. Estava mesmo era lavando nossas almas...

No domingo o dia estava mais bonito. Tinha sol e a praia estava lotada. O show na Praia Brava tinha uma vista perfeita para o mar que se abria em largos sorrisos. Inevitável emoção ao ouvir Segundo Sol. Sinceramente, acho que levitei enquanto cantava.
Ao final, as meninas do Fã-Clube foram tirar foto na beira do mar. Não resisti e me joguei naquela água morna. Um banho maravilhoso. Do tipo... "livre", sabem?! Algumas braçadas e meu espírito estava recontruído.

Na volta, uma aventura aguardava para nos ensinar um pouco mais.
Tivemos problemas com os carros num longo engarrafamento na ladeira mais íngrime de nossas vidas. E foi um teste, não de esperteza, mas de CONFIANÇA. Duas pessoas dirigiam, mas todos juntos salvaram os carros, as pessoas e vencemos velhos medos. Juntos. Sempre JUNTOS!

Não foi apenas um monte de terra que desmoronou com a enchurrada no meio do asfalto. Derrubamos outras barreiras invisíveis. Terra escura que não víamos e aprendemos a ver; sentimentos novos que invadiram nossos corações. Destinos que cruzaram-se e transformaram-se em algo muito maior. Seguindo o Nenhum de Nós nos conhecemos e ficamos amigos. Crescemos ali. Entre fotos, autógrafos e notas que os instrumentos da banda executavam. E hoje em dia, estamos sempre juntos. Mesmo sem estar num show, mesmo sem estar perto...