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domingo, 4 de dezembro de 2011

Nunca mais seremos os mesmos, por mais que a gente tente

Desde que soube da confirmação de um show do Nenhum de Nós em Juiz de Fora/MG a euforia invadiu meus dias. Não é segredo o carinho que tenho pelos mineiros e como gosto de ver a banda por lá. Animação maior ainda foi saber que, um dia antes, estaria no Rio de Janeiro o projeto "Loopcínio". Vejo o Thedy cantando Lupicínio Rodrigues desde sua primeira investida sobre a obra do compositor, numa apresentação intimista com apenas violão e teclado, em 2002. Sem dúvida, eu precisava realizar a viagem!

E não foi nada fácil desta vez...

Vida de quase-jornalista-free-lance-estagiária-que-ganha-pouco é complicada em se tratando de dinheiro. E em épocas de rematricula na faculdade então, nem se fala! Mas me descobri exímia economista. Fiz tantos cálculos que deixaria alguns contadores com inveja. Durante alguns dias minha ocupação principal foi acompanhar sites de vendas de passagens aéreas. Consegui um ótimo preço para meu retorno... mas para a ida, foi "tenso". Não conseguia valor acessível para e eu ainda tinha que pensar em hospedagem. Resolvi então ir de ônibus! Podem ficar chocados! Eu também achei loucura, mas minha vontade de investir nesta empreitada era maior que o medo do possível cansaço de mais de 24 horas dentro de chão. Como companhia levei meu escritor preferido da infância, Julio Verne, com "Vinte mil léguas submarinas". Livro feito para viajantes de plantão, descolados como eu. Como nós. Para minha surpresa, a viagem foi tranquila demais. A estrada estava ótima e foi muito bom passar um tempo a sós comigo mesma, em cúmplice meditação.
Todos precisamos organizar as ideias. Espaço para isto encontro pelas ruas onde passo, caminhando, rodando no ônibus ou avistando pontos da janela do avião...

Sentei próxima da janela e não me separei dela. Passamos por pedestres no acostamento. Para mim, apenas corpos pequeninos que se perdem no betume cego que corta cidades, campos e vidas. Observei que algumas vilas eram tão paradisíacas que pareciam apenas pinturas e sequer percebiam nossa passagem. Vi muita pobreza. Na verdade, a miséria não me causou espanto, mas me fez pensar no tamanho de meus problemas. Será que minhas dores seriam maiores do que as de pessoas esquecidas, que moram em casas com madeiras de tantas cores? Enxerguei simplicidade em placas de "vende-se cabrito" e pessoas tomando banho numa sanga. Mas também vi belezas. Lares abertos com jardins pequenos e crianças brincando. Sem luxo, sem sapatos, com sorrisos.
Ajusto meu banco para viajar com os personagens do livro, que também saem para explorar o desconhecido, abandonando a sorte em algum lugar, cheios de ansiedade e um pouco de medo.

Na tarde do dia 17, cheguei à Cidade Maravilhosa e fui aguardada com honras. Estava à minha espera mais uma querida amiga que a paixão pelo Nenhum me trouxe. Entre tesouros perdidos, as amizades são grande parte da recompensa!
A palavra loucura resume como foi nossa ida para o local do evento. O importante é que chegamos a tempo de escolher um bom lugar e esperar pela magia da noite. No palco do Caixa Econômica Cultural, Thedy Corrêa, Sasha Ambach, Adriana Maciel, Milton Guedes e Jonghi realizaram um espetáculo delicado e moderno ao mesmo tempo. Versões eletrônicas do disco Loopcínio (Orbeat/2004) contrastando com novos arranjos para as letras do Lupi faziam a platéia cantarolar e assoviar. Fiquei arrepiada ao ouvir "Felicidade" outra vez.

Acordei tarde na sexta-feira. Um bom almoço e passeio. Sabe que aqui, os homens da sociedade acharam a favela feia, então, fizeram um muro bem alto. Taparam a verdade das pessoas humildes e sem alternativa. Engessaram suas crianças sujas, seus trabalhos informais, suas leis e seus sambas com letras que só aquele mundo entende... e aceita. Mas se olharmos só para a praia, sim, o Rio de Janeiro continua lindo!

Depois levei para a escola o Cauã, menino de apenas 7 anos muito mais esperto que muito adulto chato que conheço. Na hora de ir embora ganho um forte abraço e levo a mochila cheia de presentes e saudades...

Rumo a Minas Gerais, reencontro o asfalto quente. A chuva nos alcança atrapalhando a visão para a paisagem. No livro, os tripulantes do submarino desbravam as profundezas do oceâno Atlântico; no ônibus penso no que vivi durante o ano. Tanta coisa aconteceu. Se este ano virasse uma obra literária, o título seria "2011 foi um ano bom". Conheci muita gente legal. Abandonei teimosias, quebrei fronteiras, correntes, espelhos e mágoas. Descobri novos amores, novos sabores, novas gírias. Troquei a cor do cabelo, o endereço e a profissão. Abandonei ideias enferrujadas e me abri a outros horizontes. A Jajá que brindou o início do ano com os amigos pouco se parece com a que redige este texto agora, solitária voltando pra casa. Se a mudança foi para bom ou para ruim, só o tempo vai dizer...

A própria visão do Paraíso cruzar a cidade serrana de Petrópolis. Menção solene na frente da cervejaria Bohêmia. Avistando estes morros tão altos penso que somos montanhas mágicas. Não, não estou delirando, sabe aquela história da "fé mover montanhas"? Pois, penso a frase como um enigma. Acredito que o grande segredo é deixar o comodismo de lado, posicionar os pés e começar a caminhar - literalmente. Andar para a frente não deve ser somente uma expressão. Aprendemos que é preciso ter fé para "mover montanhas", mas nada fazemos para mover a nós mesmos. Ao começar a botar o pé na estrada (Jajá On The Road), descobri que sou capaz de verdadeiramente arrastar o mundo inteiro. Não crê? Então olhe para a montanha e caminhe pouco. Vai vê-la mudar de lugar, com certeza.
Abandono a leitura e os pensamentos para tentar dormir. Sei que o fim de semana vai ser agitado, pelo menos é o que sempre espero.

Chegar em solo mineiro é sempre uma satisfação enorme! Juiz de Fora é uma cidade grande e desenvolvida. No hotel, me preparo para tomar banho e já há pouco espaço para carregar as roupas. Constato que preciso de uma mochila maior, pois minhas trilhas estão cada vez mais longas.

O melhor mesmo foi abrir a porta e encontrar mais abraços, beijos e boas notícias. Ter amigos longe de casa tem o lado ruim de sentir falta que é difícil, mas era o momento de matar sem dó nem piedade uma saudade monstra! Matamos!

Nem preciso falar da noite, pois estarei me repetindo quanto a outras aparições do Nenhum por Minas. Emocionante! Ver a banda que tanto amo e jogar conversa fora sobre qualquer filosofia complexa, configuram entre as melhores coisas da vida - da minha vida! A casa do show se chama Cultural Bar e tem um ambiente casual super bacana. Fomos EXTREMAMENTE BEM TRATADOS por todos os envolvidos. Minhas considerações à galera que nos auxiliou em tudo lá dentro. Voltamos felizes =)

"Êita trem bom" dar risadas já no café da manhã. Não tem como a pessoa não ter um ótimo dia depois disso tudo!

E junta-se as malas e segue-se mais estrada. Acho que o mundo é arredondado para que a gente nunca pare de rodar sobre ele. Minha peregrinação continua ao lado das "gurias de Minas". Muita conversa no caminho. Vimos até um trem ENOOOORME. Tão grande que não tinha fim. O maior trem que já vi. As gurias me contaram sobre o "viaduto das almas", curiosidades de estrada.
Estávamos um tanto indispostas, resultado da noite com muita cerveja e pouco descanso (pra variar). Paramos para um pão-de-queijo. Fez tão bem...

Tínhamos pressa, pois havia compromissos em BH. Infelizmente deparamo-nos com um engarrafamento, ou como dizem os mineiros, o trânsito 'tava todo "garrado". Depois de esperar sem sucesso pela liberação da estrada, nos enfiamos atrás de um carro que jurou conhecer uma rota alternativa por estrada de chão. E que alternativa... Muito barro, subida e descida. Nem preciso
citar que nos perdemos, né? Mas chegamos na parte da rodovia onde tudo fluia normalmente. O carro, que enfrentava sua primeira grande aventura, estava irreconhecível. Na verdade ele era pura lama e pó. E a cada quilômetro novas sujeirinhas se acoplavam na lataria. Os nativos diriam que o visual do automóvel era "cabuloso". Viajar em Minas é prazeroso demais, porém as rodovias precisam mesmo de atenção. O caminho desaparecia constantemente por causa da neblina intensa.

Foi bom rever algumas placas. Nas proximidades de Belo Horizonte comecei a sentir o "ventinho no coração" por reencontrar um lugar que gosto tanto e de onde trago sempre cintilante felicidade.
Foi um final de semana raro. Visitamos o Mineirão, a Lagoa da Pampulha e torcemos pelo Cruzeiro - muita alegria! Pude ficar até segunda-feira na capital mineira compartilhando momentos de diversão e aquelas conversinhas terapêuticas, abertas, que só se tem com amigos à beira de uma calçada confidente.


Sem vontade alguma de ir embora, parti para a cidade de Confins. Espero pelo voo e procuro o livro para que os personagens também terminem sua viagem; nada encontrei. Perdi o li o livro em alguma passagem... Mas nem me aborreci. É uma história maravilhosa e espero que quem tenha a fortuna de encontrá-lo aproveite muito e, como eu, possa se inspirar. No "Vinte mil léguas submarinas", Julio Verne narra acontecimentos de um capitão que desiste da humanidade e larga tudo para viver sob as águas em seu submarino.
Realmente não é fácil viver na Terra com tantas pessoas e suas contradições. Mas acho que vale o esforço de acreditar que podemos mudar e aprender a respeitar sentimentos alheios. Temos chance ainda de saber dividir conhecimento e riquezas. De dar mais valor as coisas simples e permitir que nosso espírito evolua.
Eu gosto de ter fé num mundo melhor! E você?

3 comentários:

  1. Conheço essa fotooo =))) hehehe
    Adorei o post! Como sempre, viajo contigo quando leio... muito bom!!!

    Saudadeees!!

    Beijoo

    Ana Letícia

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  2. Post muito legal mesmo! Resolvi colocar meu comentário entre parênteses, pois não poderia deixar de comentar alguns trechos finais separadamente, parabéns mesmo!!!
    "Realmente não é fácil viver na Terra com tantas pessoas e suas contradições"(Com certeza!As vezes necessitamos de muita paz de espirito e sabedoria para compreender certas cabeças.).
    "Mas acho que vale o esforço de acreditar que podemos mudar e aprender a respeitar sentimentos alheios"(“Mudança”, muitas vezes nos ajuda a crescer e a provar que podemos ser melhores do que nos somos, como pessoas, como profissionais e principalmente como seres humanos.).
    (Na vida!)"Temos chance ainda de saber dividir conhecimento e riquezas. De dar mais valor as coisas simples e permitir que nosso espírito evolua."(Frase fantastica!)
    "Eu gosto de ter fé num mundo melhor! E você?(SIM!COM TODA CERTEZA!)
    (ass:ajjnoturno do twitter)

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  3. Eu tenho muita fé num mundo melhor :)

    lindo texto, eu sempre me emociono com os seus posts! na próxima vez que vier a Juiz de Fora quero te conhecer :)

    beijinhos

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=)