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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Na chegada de quem volta a pé para casa...

Nas séries iniciais da escola, aprendi que o radical de uma palavra é a parte que nunca muda. Independente da conjugação, do modo e do tempo, é a parte que fica sempre igual. Aprendi que a essência é pura.

Primeira manhã das férias de inverno. Para que a tradição não se quebre é obrigatório dormir até o meio-dia no primeiro dia de alforria. E eu dormia profundamente... quando meu celular gritou desesperadamente: "VERANÓPOLIS AMANHÃ???". Li a frase; não acreditei. Fechei os olhos para voltar a dormir. Não consegui. Saltei da cama.

Enquanto tomava banho, lembrei de uma vez que li num livro, de autoria atribuida ao Buda, que frente à situação de ter de escolher entre um "não" e um "sim" devemos escolher o "sim". Ponderar, mas dar preferência aos "sim" que a vida nos oferece. Procurei o celular e respondi a mensagem: "SIM!!!"

Este ano decidi apostar em alguns projetos ousados. Resolvi correr atrás, com todas as minhas forças, de antigos sonhos e planos profissionais. Isso toma todo o meu tempo e não tem sido fácil cruzar meus caminhos com os do Nenhum. Na verdade, não tem sido fácil cruzar meus caminhos com os caminhos de ninguém. Fico pouco em casa, ando de um lado para outro, com a companhia dos meus livros... e só. Sei que estamos na tão aclamada Era da modernidade, mas percebo que as coisas ainda são muito difíceis para as mulheres. Digo as mulheres que não querem apenas um marido, um par de filhos, boas compras de supermercado e um final de semana no Natal Luz de Gramado. Estou estudando muito mais e investindo em uma nova carreira. Porém, me vejo trabalhando em dobro, aguentando piadinhas e sendo desafiada só por que sou mulher. Parece que a gente sempre tem que PROVAR que dá conta, entendem? Não bastam os resultados, tem que haver uma afirmação e depois a reafirmação. É de encher o saco!!!

Decido me animar e pôr pra rodar um disco do Nenhum de Nós, mas fiquei em dúvida em qual escolher. Com esse lance de ter tudo digitalizado, nunca mais tinha mexido nos CDS. Nem tenho ouvido música. Por acaso, peguei o Paz e Amor. Em pouco tempo eu já não lembrava das questões sociais, do trabalho, do futuro, de nada. "Não tenha medo de andar com suas próprias pernas..."
Eu transbordava vontade de dançar com a minha banda preferida ao lado da minha parceira de muuuuuitas INDIADAS.

Estávamos em dúvida de investir na viagem, que não era longa, mas poderia ser cansativa. Ligamos para alguns amigos e mais ninguém topou. E agora? Seguimos? Desistimos?
A tarde de sábado se arrastou com a dúvida de ir ou não para a cidade de Veranópolis/RS, onde teria o show. Filosofar é examinar a razão. A decisão tinha de ser racional. Havia condições de ir? A gente não sabia... Se existe algo oculto no mundo, tipo "anjos", os que me rondam são MUITO LOUCOS E AVENTUREIROS. E nos aconselharam a acreditar no nosso taco e dizer "sim" mais uma vez.

Sabíamos que seria um passeio bom, as duas amigas colocando a conversa em dia. Só não imaginávamos que seria uma noite de quebrar tradições, costumes e mais algumas coisas...

Uma das pautas da viagem foi a existência de Deus. Não posso atestar que Ele existe, muito menos provar o contrário. Minha teoria é que, se um deus existe, não interfere na nossa vida. Talvez receba nossa alma quando morremos. Mas aqui "embaixo" é tudo com a gente. Acho que não nascemos nem bons nem maus e vamos vivendo do jeito que dá. Ponto. Pode ser uma ideia racional ou um pensamento de quem cansou de acreditar. Disseram-me que sabedoria é saber que não se sabe coisa alguma... Ponto.

O carro vencia sem dificuldades a subida da serra gaúcha. Vimos o pórtico de entrada de Bento Gonçalves, um barril imenso que sempre me deixa com vontade de beber vinho. A rodovia não está das melhores. Muita recapagem mal feita e a iluminação é uma lenda! Fiscalização só se for de fantasmas, porque polícia não existe naquelas bandas. Cruzamos a ponte do Rio das Antas, conhecido pela beleza dos penhascos ao seu redor. E é lindo mesmo, mas a escuridão dá ao caminho um toque de filme de suspense. Por algum motivo não estava tocando nenhuma música no Ipod naquele momento. Aconteceu em uma das curvas apertadas e extremamente mal planejadas da RS470. Direção pra lá e pra cá. Dois pneus estourados... e o fim dos nossos lindos penteados.

Queríamos uma noite incrível. E tivemos!
Aconteceu tanta coisa maluca que se eu narrar aqui, a história vai se parecer com O Sítio do Pica-pau Amarelo, do Monteiro Lobato. Personagens pitorescos apareceram na mais marcante (e exaustiva) madrugada que vivemos juntas. Pelo menos, em se tratando de nervos à flor da pele, adrenalina e graxa. Resumindo em poucas palavras: borracharia macabra no meio do nada, boléia de caminhão, carro que anda sozinho, gente bêbada, Jesus (o próprio), guincho, medo e coragem. Demoramos para notar que a temperatura chegava a quase 0ºC... e a geada caía silenciosamente sobre nossas cabeças...

Vou correr o risco de ser chamada de idiota, mas ouvi esta música no filme da Hanna Montanna (sim, levei meus sobrinhos para assistirem) e ela diz muito sobre a impressão desta e de outras viagens. Sobre o que nos faz seguir um mapa. E que a conquista nem sempre é achar um "tesouro" no fim da expedição, mas é enxergar a beleza da caminhada.

Quem põe o pé na estrada (literalmente ou não) com um desejo forte no coração sabe do que estou falando.

Quem não entendeu nada, pode sacar qual é o espírito...

"Ain't about how fast I get there
Ain't about what's waiting
On the other side
It's the climb"



- ´Tá. Mas não vai contar nada sobre o show, Jajá???
-  Nem te conto...

4 comentários:

  1. Eu queria estar junto nessa INDIADAAAAA!

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  2. Que noite... Já diz o slogan da querida empresa que trabalho: LIVING AND LEARNING!!!! Obrigada, neni! Beijo!

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    Respostas
    1. BjNeniiii!!!
      Penso seriamente em comprar um fusca..... kkk
      Te amo!

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